A “bruxa de Vladimirovac” era o pesadelo dos homens jugoslavos. uma das maiores assassinas em série de sempre foi presa aos 90 anos e nunca pegou numa arma.
Foi batizada Ana, mas ficou conhecida como Baba Anujka a “bruxa de Vladimirovac”, detida em 1928, aos 90 anos, depois de uma carreira a matar os maridos das outras.
A sérvia-romena Ana di Pištonja terá estado envolvida na morte de dezenas — possivelmente centenas — de homens na antiga Jugoslávia.
Nascida por volta de 1837, numa região que hoje pertence à Roménia, Baba Anujka terá crescido numa família abastada, com uma educação cuidada e numa escola privada. Dominava cinco idiomas, mas foram a química e a medicina que despertaram o seu interesse e lhe proporcionaram o talento necessário para uma vida no crime.
Ainda jovem mudou-se com a família para Vladimirovac, hoje território sérvio mas na época parte do Império Austríaco. Apaixonou-se por um oficial austríaco e o desgosto que este lhe deu — abandonou-a após supostamente a ter contagiado com sífilis — terá levado Ana para maus caminhos.
Mais tarde, casou-se com um rico proprietário rural, mais velho, com quem terá tido 11 filhos — embora só um tenha sobrevivido até à idade adulta. Após duas décadas de casamento, ficou viúva. Foi nessa altura que começou a transformar-se na lendária “Bruxa de Vladimirovac”, lembra o All That’s Interesting.
O laboratório onde “a magia acontecia”
Após a morte do marido, Ana construiu um pequeno laboratório em casa, onde começou a preparar misturas com ervas e substâncias tóxicas. Algumas, de natureza benigna, serviam para aliviar doenças ou até ajudar homens a escapar ao recrutamento militar, ao torná-los temporariamente debilitados. Já outras tinham fins mais sinistros.
Começou a vender “águas mágicas” e “poções do amor”, dirigidas sobretudo a mulheres do meio rural que queriam livrar-se de casamentos abusivos ou infelizes — numa altura em que o divórcio era tabu e quase impossível de obter. Muitas dessas misturas continham arsénico e extratos de plantas venenosas.
Baba Contava com a ajuda de Ljubina Milankov, uma espécie de intermediária que espalhava a fama da bruxa entre as mulheres da aldeia. Ljubina ouvia as queixas das esposas junto ao poço da aldeia e, quando alguém manifestava problemas conjugais, sugeria a intervenção da milagrosa Baba Anujka.
Conforme explicou o historiador Mircea Maran à BBC,
Os clientes recorriam à bruxa para fazer com que alguém adoecesse, enlouquecesse ou morresse. A fórmula era simples: Baba Anujka perguntava quão “pesado” era o problema — uma forma disfarçada de saber o peso da vítima e calcular a dose adequada — e garantia: “Depois do oitavo dia, já não terá problemas”, recorda o historiador Mircea Maran à BBC.
E de facto, as vítimas, homens saudáveis, morriam poucos dias após ingerirem as poções. Muitas das mulheres que recorreram aos seus serviços alegaram não saber que as misturas eram letais, acreditando tratar-se de remédios místicos.
A queda da bruxa de 90 anos
A polícia nunca suspeitou da atividade de Baba Anujka. Só quando uma cliente regular, Stana Momirov, abusou da sorte, é que a polícia começou a investigar.
Stana cometeu o erro de recorrer aos serviços de Baba para resolver não um, mas dois “pesados problemas”. Depois de usar com sucesso uma poção de Baba Anujka para matar o primeiro marido, decidiu fazer o mesmo para eliminar o tio rico do segundo marido.
Quando os dois homens morreram em circunstâncias semelhantes, a polícia iniciou uma investigação. Stana, sob pressão, acabou por confessar e identificar Baba Anujka como vendedora do veneno. Isso aconteceu em 1928, já a bruxa tinha 90 anos. Foi detida com vários cúmplices, incluindo Ljubina Milankov.
Durante a detenção, terá dito palavras assustadoras:
“Estou a colaborar com o Diabo, jovem. Se me prenderem, lembrar-se-ão de mim até ao fim da vossa vida. Não se metam com as forças do Diabo.”
Apesar do aviso, as autoridades levaram-na a julgamento. A 7 de junho de 1929, o Tribunal Distrital de Pančevo ficou cheio. Testes forenses realizados aos corpos exumados confirmaram a presença de veneno como causa de morte. Mas Baba Anujka nunca admitiu culpa. Alegava vender apenas remédios naturais, e nunca substâncias mortais.
Nunca se soube ao certo qual foi o número total de vítimas da bruxa, mas estima-se que possa ter matado entre 50 e 150 pessoas, todas envenenadas com as suas poções.
Por trás de uma doce velhinha, sorridente e delicada, escondia-se uma autêntica servidora do mal.