Acusação vem do primeiro-ministro arménio. Azerbaijão desmente planos e acusa Arménia de ter reivindicações que impedem planos de paz.
O primeiro-ministro arménio, Nikol Pashinyan, acusou hoje o Azerbaijão de querer uma “guerra total” contra a Arménia, dois dias após novos confrontos que provocaram quatro mortos na fronteira entre os dois países.
“As nossas observações mostram que o Azerbaijão quer lançar ações militares em certas áreas da fronteira com a perspetiva de uma escalada militar, que se transformaria numa guerra total contra a Arménia”, declarou Pashinyan durante um conselho de ministros.
A Arménia e o Azerbaijão acusaram-se mutuamente na terça-feira dos confrontos ocorridos na fronteira perto de Nerkin Hand, no sudeste da Arménia, que provocou a morte de quatro soldados arménios, segundo Erevan.
“O Azerbaijão segue a política: ‘dê-me tudo o que quero através das negociações, caso contrário, tirarei tudo por meios militares‘”, denunciou Nikol Pashinyan, acusando Baku de não querer manter a “estabilidade e a segurança” da região.
A tensão continua elevada entre os dois países, que há décadas têm numerosas disputas territoriais. Erevan suspeita que o Azerbaijão tem novas ambições desde a reconquista da região separatista de Nagorno-Karabakh, em setembro.
Azerbaijão desmente planos, mas…
O Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, durante o seu discurso de posse — após a sua reeleição no início de fevereiro —, reiterou na quarta-feira que o seu país não tem planos de expansão.
“Não temos reivindicações territoriais contra a Arménia. E [os arménios] devem desistir das suas reivindicações. A chantagem irá custar-lhes caro”, disse Aliyev.
“Não haverá acordo de paz enquanto a Arménia não renunciar a essas reivindicações em relação ao Azerbaijão”, acrescentou o chefe de Estado azeri.
O líder do Azerbaijão, de 62 anos, está entusiasmado com a sua vitória militar contra os separatistas arménios de Nagorno-Karabakh, que pôs fim a três décadas de separatismo marcadas por duas grandes guerras.
Em setembro de 2023, o exército do Azerbaijão, graças a uma ofensiva relâmpago, assumiu o controlo total de Nagorno-Karabakh, obrigando dezenas de milhares de habitantes a fugir em direção à Arménia.
De acordo com Erevan, o Azerbaijão pode tentar controlar a região arménia de Siounik, com o objetivo de ligar o enclave azeri de Nakhchivan ao resto do Azerbaijão. Perante este receio, a Arménia aderiu oficialmente no final de janeiro ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que é uma instância internacional de justiça que julga crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
Um lado fala em “operações antiterroristas”, o outro numa “limpeza étnica”.
“O conflito mais antigo da Eurásia pós-soviética”
O anúncio da operação azeri surgiu três anos após o início da anterior guerra de Nagorno-Karabakh, em setembro de 2020, que as forças do Azerbaijão venceram ao fim de seis semanas.
Mas nada disto é novo: o conflito “é o mais antigo da Eurásia pós-soviética”, descreve o Crisis Group, segundo o Observador.
A região montanhosa do Azerbaijão de maioria arménia, declarou a independência de Baku na sequência da desintegração da União Soviética, em 1991. Depois da Revolução Russa de 1917, que pôs fim ao império dos czares, Arménia e Azerbaijão já disputavam o enclave, onde os dois maiores grupos étnicos são os arménios e os azeris.
A declaração da independência desencadeou um conflito armado de que saíram vencedores os separatistas apoiados pela Arménia. Trinta anos mais tarde, no outono de 2020, as forças armadas do Azerbaijão reconquistaram dois terços do território, situado no sul do Cáucaso.
O saldo da primeira guerra foi de mais de 30 mil mortos, a que se somaram mais de um milhão de refugiados: os azeri fugiram da Arménia, os arménios deixaram o Azerbaijão.
ZAP // Lusa