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As aves são capazes de ver uma cor que os humanos não conseguem

Os pássaros veem o mundo de uma forma muito diferente da dos humanos. Agora, podemos finalmente ter uma ideia de como é o “mundo das aves”, graças a uma câmara especialmente projetada que simula a sua visão.

A bióloga Cynthia Tedore iniciou este projeto com o objetivo de procurar padrões na natureza observada pelas aves, mas a finalidade acabou por ser outra. A equipa de cientistas escolheu, em vez disso, explorar a visão das aves, dado que os pássaros se orientam visualmente e, ao contrário dos olhos humanos, conseguem detetar uma quarta cor além do vermelho, azul e verde.

Nós humanos temos três tipos de recetores de cor – ou cones – que são sensíveis às frequências de luz vermelha, azul e verde. As aves têm um quarto recetor, que varia entre as espécies no tipo de frequência que pode detetar.

Alguns pássaros, como os honeyeaters australianos, têm o quarto recetor de cor sensível à luz violeta; já os papagaios conseguem detetar a luz na parte ultravioleta (UV) do espectro.

Para descobrir de que forma esses cones sensíveis à luz violeta e UV se traduzem visualmente, os cientistas fotografaram um denso habitat de uma floresta usando uma câmara multiespectral com filtros especialmente projetados para imitar o que um pássaro consegue ver.

(dr) Cynthia Tedore

Uma fotografia normal à esquerda e uma fotografia que inclui luz verde e cores UV

As imagens multiespectrais mostram claramente como a sensibilidade UV deteta um maior contraste entre as superfícies superior e inferior das folhas, fazendo com que a posição e orientação de cada folha se destaque de uma forma 3D muito clara.

“Na verdade, o que parece ser uma confusão verde para os seres humanos, são folhas claramente distinguíveis para as aves”, disse o biólogo Dan-Eric Nilsson, da Lund University.

Tedore explicou ao Science Alert que a visão UV “ajuda os pássaros a voar através da densa folhagem com uma maior agilidade”. “Muitas aves procuram insetos e aranhas que se escondem nas superfícies inferiores das folhas, e poder identificar rapidamente essas superfícies deve aumentar sua eficiência”.

Através de um modelo computacional, os cientistas também conseguiram descobrir que o contraste máximo de folhas é observado em comprimentos de onda UV curtos em folhas bem iluminadas e em comprimentos de onda UV mais longos em coberturas com iluminação mais baixa. Isto pode explicas o motivo pelo qual a quarta cor detetada pelas aves varia de espécie para espécie.

Como as aves têm quatro classes de recetores de luz (vermelho, verde, azul e UV) e nós só temos três (vermelho, verde e azul), só conseguimos observar três canais de cada vez, explica a cientista. Desta forma, “é impossível para nós gerar uma representação realista do que a visão com quatro canais cónicos pode parecer.”

No entanto, apesar de ser incrível, “ver em quatro cores” pode também trazer algumas desvantagens, indicam os cientistas no artigo científico publicado recentemente na Nature Communications.

“Uma das desvantagens de ter uma quarta classe de cone é que ocupa espaço na retina que poderia ter sido ocupado por mais uma das outras três classes de recetores de luz”, diz Tedore. “Isso pode ter efeitos prejudiciais na resolução e na sensibilidade sob condições de pouca luminosidade.”

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