Os dois são integrantes do Grupo 1143 e um deles participou na manifestação autorizada de abril, organizada por Mário Machado. Espcialistas e autoridades temem mimetismo.
O português de 26 anos apanhado em flagrante delito na posse de um bastão extensível, na madrugada da passada sexta-feira, dia 4 de maio, é neste momento o principal suspeito de planear, com o seu irmão, pelo menos um dos três ataques que aconteceram no espaço de duas horas na cidade do Porto.
Os dois irmãos, avança o jornal Expresso esta sexta-feira, integram o nacionalista e neonazi Grupo 1143, liderado pelo skinhead Mário Machado, condenado esta semana a dois anos e 10 meses de prisão efetiva por pedir a “prostituição forçada” de mulheres do Bloco de Esquerda.
Um deles participou na manifestação “Menos Imigração, Mais Habitação” de 6 de abril no Porto, que, autorizada pela PSP, decorreu em simultâneo e a apenas 350 metros da manifestação “Contra o Fascismo, Mais e Melhor Habitação”.
O segundo irmão foi um dos cinco indivíduos identificados pelas autoridades que seguiam à procura do detido, de carro — cuja matrícula correspondia à dos relatos do primeiro ataque. Saiu em liberdade.
Juntos, os dois irmãos “criaram uma espécie de milícia para bater em imigrantes magrebinos, culpando-os pelos roubos das últimas semanas no centro da cidade”, refere um responsável policial ao jornal. Agiam por “vingança justiceira” e “motivações xenófobas”, explica a mesma fonte.
As autoridades policiais ainda estão a investigar se houve orientação, por parte dos líderes do Grupo 1143, para que os suspeitos agredissem os imigrantes nessa madrugada.
“Cumplicidade dos vizinhos”. Teme-se mimetismo
As forças, serviços de segurança e especialistas temem cada vez mais que haja novos ataques racistas “inspirados” pelas ideias nazis.
Há um “agravamento da ameaça representada por setores da extrema-direita” no país, avisa o último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), que sublinha que após um período de estagnação, os militantes dos setores neonazi “retomaram a sua atividade, promovendo ações de rua”, “alguns associados a células ou grupos de cariz terrorista”.
No caso do incidente do Porto, não é o único e contou com “alguma cumplicidade dos vizinhos”: “há o risco de se repetirem estes casos de violência racista”, diz a psicóloga, professora universitária e dirigente do SOS Racismo Joana Cabral ao Expresso.
Cátia Moreira de Carvalho, investigadora em radicalismo e extremismo, partilha de opinião semelhante. Teme que estes ataques de movimentos de extrema-direita possam contar com o apoio da população.