Ataque dos EUA matou líder da Al-Qaeda, mas não a família. Como foi possível?

Hamid Mir / Wikimedia

À direita Ayman al-Zawahiri, líder da Al-Qaeda morto no domingo, com Osama Bin Laden

A escolha de um tipo de míssil específico e o estudo dos hábitos do líder da Al-Qaeda permitiu aos Estados Unidos (EUA) eliminar Ayman al-Zawahiri sem atingir a sua família, que se encontrava a poucos metros do local.

Ayman al-Zawahiri, de 71 anos, foi morto no passado domingo, no centro de Cabul, no Afeganistão, quando dois mísseis atingiram a varanda do complexo habitacional onde se encontrava. A filha e a esposa, que se encontravam no interior do edifício,  saíram ilesas do ataque.

De acordo com a BBC, os EUA utilizaram o Helfire no ataque, um tipo de míssil que começou a ser usado nas suas operações antiterroristas após o 11 de setembro de 2001. Com uma alta precisão, pode ser disparado de helicópteros, veículos terrestres, navios, aeronaves de asa fixa e drones não tripulados – como aconteceu agora.

Nos ataques com recurso a drones, os sensores desses equipamentos enviam informação em tempo real ao operador de armas, que pode “travar” o alvo e apontar o laser. Uma vez disparado o míssil, o responsável consegue seguir a trajetória do laser até atingir o alvo.

Antes de disparar o míssil, devem ser seguidos alguns procedimentos de forma a minimizar o risco de baixas civis, que incluem a consulta a advogados militares antes da ordem de disparo. Segundo o professor William Banks, as autoridades têm ponderar o risco de mortes de civis e o valor do alvo.

No caso de Ayman al-Zawahiri “foram muito cuidadosos”, procurando encontrar o líder num local e momento “em que conseguiriam atingi-lo apenas a ele, sem magoar mais ninguém”, indicou Banks, especialista em assassinatos seletivos e fundador do Instituto de Direito e Política de Segurança da Universidade de Syracuse, nos EUA.

Ainda de acordo com a BBC, os EUA terão usado uma versão relativamente desconhecida do Hellfire – o R9X -, que utiliza seis lâminas para cortar os alvos, recorrendo à energia cinética.

Em 2017, Abu Khayr al-Masri, outro líder da Al-Qaeda, terá sido morto com um Hellfire R9X, na Síria. Acredita-se que os EUA tenham usado o mesmo míssil para matar o general iraniano Qassem Soleimani em Bagdade, no início de 2020, e o ‘jihadista’ britânico conhecido como “Jihadi John” na Síria, em 2015.

Na sequência do ataque a Ayman al-Zawahiri, as autoridades norte-americanas afirmaram ter informações suficientes para entender o seu “padrão de vida” e rotinas diárias – como o hábito de ir até a varanda -, sugerindo que os EUA estavam a vigiar a casa há algum tempo.

Também à BBC, Marc Polymeropoulos, ex-agente da CIA, disse que, provavelmente, vários métodos de inteligência tenham sido usados ​​antes do ataque, incluindo espiões em campo e intercetação de sinais. O ataque beneficiou das décadas de experiência dos EUA no rastreamento de líderes da Al-Qaeda e outros alvos terroristas, frisou.

Para Bill Roggio, investigador da Fundação para a Defesa das Democracias, o ataque a Ayman al-Zawahiri terá sido “muito mais difícil” de executar do que os anteriores, dada a ausência de presença ou fontes do governo dos EUA nas proximidades.

Este foi “o primeiro ataque contra a Al-Qaeda ou o Estado Islâmico no Afeganistão desde a saída dos EUA. Não é um acontecimento comum”, referiu, indicando que “não ficaria surpreso” se ataques semelhantes ocorressem novamente no país.

“Os potenciais próximos líderes [da Al-Qaeda] devem mudar-se para o Afeganistão, se já não estiverem lá. A questão é se os EUA ainda têm capacidade” de executar ataques do género “com facilidade ou se será um processo difícil”, acrescentou.

A verdade é que nem sempre as operações norte-americanas deste tipo correram conforme o planeado. A 29 de agosto de 2021, um ataque de drone a um carro perto do aeroporto de Cabul, destinado a atingir um membro local do Estado Islâmico, matou 10 civis. O Pentágono reconheceu que se tratou de um “erro trágico”.

ZAP //

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