/

Astrónomos descobrem ondas misteriosas em estrela próxima da Terra

NASA

Conceito artístico do disco nebuloso na formação de um planeta à volta de uma jovem estrela

Conceito artístico do disco nebuloso na formação de um planeta à volta de uma jovem estrela

Com o auxílio de imagens do Very Large Telescope do ESO e do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, astrónomos descobriram estruturas nunca antes observadas no seio de um disco de poeira que rodeia uma estrela próxima.

As estruturas do tipo de ondas que se deslocam rapidamente no disco da estrela AU Microscopii não se parecem com nada que tenha sido observado, ou mesmo previsto, até à data. A origem e natureza destas estruturas apresenta aos astrónomos um novo mistério a desvendar.

Os resultados deste trabalho foram publicados ontem na revista Nature.

A estrela próxima AU Microscopii, ou AU Mic, é jovem e encontra-se rodeada por um grande disco de poeira (AU Microscopii situa-se a apenas 32 anos-luz de distância da Terra. O disco contém essencialmente asteroides que colidiram tão violentamente que acabaram pulverizados).

Estudos de discos de restos como este fornecem pistas valiosas sobre como é que a partir deles se formam os planetas.

Os astrónomos têm estudado o disco de AU Mic no intuito de procurarem sinais de estruturas mais condensadas ou deformadas, já que tais estruturas podem indicar a localização de possíveis planetas. Em 2014 foram utilizadas as capacidades de imagem de alto contraste do instrumento SPHERE do ESO, recém-instalado no VLT, tendo-se descoberto algo muito invulgar.

“As nossas observações mostraram algo inesperado,” explica Anthony Boccaletti, astrónomo do Observatório de Paris, França, autor principal do artigo científico que descreve estes resultados.

“As imagens do SPHERE mostram um conjunto de estruturas inexplicáveis no disco, em forma de arcos ou ondas, diferentes de tudo o que foi observado até hoje“, acrescenta Boccaletti.

Cinco arcos em forma de onda a diferentes distâncias da estrela aparecem nas novas imagens, fazendo lembrar pequenas ondas propagando-se numa poça de água.

Após ter descoberto estas estruturas nos dados do SPHERE, a equipa verificou imagens anteriores do disco obtidas com o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA em 2010 e 2011 para ver se também aí apareceriam tais estruturas.

A equipa não só conseguiu identificar estas estruturas nas imagens mais antigas do Hubble, como também descobriu que estas variam com o tempo. Aparentemente estas ondas estão a deslocar-se — e muito rapidamente!

ESO / NASA / ESA

Com o auxílio de imagens do VLT do ESO e do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, os astrónomos descobriram estruturas do tipo de ondas que se deslocam rapidamente no disco de poeira que rodeia a estrela AU Microscopii. Estas estranhas estruturas não se parecem com nada que tenha sido observado, ou mesmo previsto, até à data. A linha de cima mostra uma imagem do Hubble obtida em 2010 do disco da AU Mic, a linha central corresponde a uma imagem do Hubble de 2011 e a linha de baixo mostra dados do VLT/SPHERE de 2014. Os círculos pretos centrais tapam a luz brilhante da estrela central de modo a podermos observar o disco que é muito mais ténue. A posição da estrela está marcada esquematicamente.

Com o auxílio de imagens do VLT do ESO e do Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, os astrónomos descobriram estruturas do tipo de ondas que se deslocam rapidamente no disco de poeira que rodeia a estrela AU Microscopii. Estas estranhas estruturas não se parecem com nada que tenha sido observado, ou mesmo previsto, até à data.
A linha de cima mostra uma imagem do Hubble obtida em 2010 do disco da AU Mic, a linha central corresponde a uma imagem do Hubble de 2011 e a linha de baixo mostra dados do VLT/SPHERE de 2014. Os círculos pretos centrais tapam a luz brilhante da estrela central de modo a podermos observar o disco que é muito mais ténue. A posição da estrela está marcada esquematicamente.

“Processámos as imagens dos dados Hubble e obtivemos informação suficiente para seguir o movimento destas estranhas estruturas durante um período de 4 anos,” explica Christian Thalmann, membro da equipa.

“Descobrimos assim que os arcos se afastam da estrela a velocidades que vão até aos cerca de 40.000 km/hora!”, acrescenta Thalmann.

As estruturas parecem estar a mover-se mais depressa mais longe da estrela do que mais próximo dela. Pelo menos três delas estão a deslocar-se tão depressa que poderão escapar à atração gravitacional da estrela.

Tais velocidades tão elevadas excluem a possibilidade de que estas sejam estruturas convencionais no disco causadas por objetos — tais como planetas — que perturbam o material do disco à medida que orbitam a estrela.

Outro fenómeno qualquer deve estar envolvido para que as ondas sejam aceleradas e se desloquem tão depressa, o que significa que estas estruturas são um sinal de algo verdadeiramente invulgar (o disco é observado de perfil, o que complica a interpretação da sua estrutura tridimensional).

“Tudo nesta descoberta é bastante surpreendente!”, comenta a co-autora Carol Grady, investiadora da Eureka Scientific, EUA.

“E uma vez que nunca foi observado nada do género, e nem sequer previsto pela teoria, podemos apenas tecer conjeturas sobre o que estamos a ver e como é que se poderá ter formado”, diz Grady.

A equipa não pode dizer com toda a certeza o que terá causado estas ondas misteriosas em torno da estrela.

No entanto, considerou já uma série de fenómenos que foram rejeitados como explicação possível, incluindo a colisão de dois objetos raros e massivos do tipo de asteroides que libertariam enormes quantidades de poeira, e ondas em espiral com origem em instabilidades na gravidade do sistema.

No entanto, consideraram também outras ideias que parecem mais promissoras.

“Uma explicação possível para estas estranhas estruturas tem a ver com as erupções da estrela. A AU Mic é uma estrela com uma alta atividade de erupções — lançando frequentemente enormes quantidades de energia da sua superfície ou perto dela,” explica o co-autor Glenn Schneider do Observatório Steward, EUA.

“Uma destas erupções poderia ter dado origem a algum fenómeno num dos planetas – se houver planetas — como um violento arrancar de matéria que poderia agora estar a propagar-se ao longo do disco, impulsionada pela força da erupção”, explica Schneider.

“É muito satisfatório que o SPHERE se tenha revelado extremamente capaz de estudar discos como este no seu primeiro ano de operações,” acrescenta Jean-Luc Beuzit, co-autor do novo estudo e que liderou também o desenvolvimento do SPHERE.

A equipa planeia continuar a observar o sistema AU Mic com o SPHERE e outras infraestruturas, incluindo o ALMA, no intuito de tentar compreender o que se está a passar.

Mas por agora, estas curiosas estruturas permanecem um mistério por resolver.

CCVAlg

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.