Apesar de terem quilómetros de diâmetro, os dois asteróides não mudaram significativamente o clima na Terra e deixaram poucas marcas além das crateras de impacto.
Há 35,65 milhões de anos, dois asteróides, ambos com vários quilómetros de diâmetro, atingiram a Terra com cerca de 25 mil anos de diferença. Um impacto formou a cratera Popigai, na Sibéria, com 100 km de diâmetro, enquanto o outro originou a cratera da Baía de Chesapeake, nos Estados Unidos, com 40-85 km de diâmetro.
E o que será que se seguiu? Uma nuvem de poeira gigante que bloqueou a entrada da luz do Sol durante séculos? Alguma extinção em massa semelhante à dos dinossauros? Uma catástrofe digna de inspirar um blockbuster de Hollywood?
Segundo um novo estudo publicado na Communications Earth & Environment, a resposta é bastante menos interessante — a pesquisa concluiu que os asteróides não parecem ter tido efeitos no clima da Terra a longo prazo.
Os investigadores reconstruíram o clima antigo analisando isótopos presentes em microfósseis de foraminíferos, pequenos organismos com carapaça que viviam nos oceanos naquela época. Os padrões isotópicos refletem as temperaturas dos oceanos no passado, fornecendo informações sobre as condições climáticas.
A coautora Bridget Wade explica: “Os nossos resultados mostram que não houve mudanças climáticas significativas após estes impactos. Enquanto esperávamos alterações nos isótopos que indicassem variações de temperatura, não encontramos nada. Isto sugere que o clima da Terra estabilizou rapidamente, apesar da gravidade destes eventos.”
No entanto, a resolução do estudo, baseada em amostras espaçadas por 11 mil anos, não permite detetar perturbações mais curtas, com durações de décadas ou séculos. Estas perturbações poderiam incluir tsunamis massivos, ondas de choque, incêndios generalizados e nuvens de poeira temporárias na atmosfera.
A investigação contrasta com os resultados do impacto do asteróide Chicxulub, há 66 milhões de anos, que causou a extinção dos dinossauros e alterações climáticas mensuráveis a curto prazo. Modelos deste evento sugerem uma mudança climática com duração inferior a 25 anos, explica o SciTech Daily.
O final do Época Eocénica, período em que ocorreram estes impactos, foi também marcado por três colisões de asteróides mais pequenas, apontando para uma atividade aumentada no cinturão de asteróides do Sistema Solar.
Os fósseis analisados revelaram um ligeiro aquecimento dos oceanos de superfície em cerca de 2°C e arrefecimento das águas profundas em 1°C, aproximadamente 100 mil anos antes dos impactos, mas sem alterações significativas diretamente associadas aos eventos.
O estudo destaca a resiliência do sistema climático terrestre a estes impactos e sublinha a necessidade da vigilância a potenciais colisões futuras. “Esta investigação melhora a nossa compreensão da história climática da Terra e dos efeitos variáveis dos impactos de asteróides”, remata a co-autora Natalie Cheng.