Milwaukee Art Museum/Google Arts & Culture

Moisés a Apresentar as Tábuas da Lei, Philippe de Champaigne (1602–1674)
“Isto é de Moisés”. Investigador diz ter descoberto possível assinatura do profeta em inscrições com 3.800 anos. A confirmar-se, seria a primeira prova da existência do personagem bíblico, mas a comunidade científica está dividida.
Um investigador independente surpreendeu todos este mês ao dizer que encontrou a assinatura protossinaítica do profeta bíblico Moisés, mas não conseguiu fugir às críticas.
Michael S. Bar-Ron estudou durante oito anos as marcas encontradas num antigo local de mineração de turquesa em Serabit el-Khadim, na Península do Sinai, no Egito. A sua investigação refere duas inscrições, com cerca de 3.800 anos, que poderão conter referências diretas, escritas pelo próprio profeta bíblico que liderou o povo hebreu na fuga do Egito, segundo a tradição judaico-cristã.
O investigador da Ariel University, de Israel, procedeu à análise epigráfica e linguística do achado. Alega, numa proto-tese ainda não revista por pares, que as inscrições identificadas como Sinai 357 e Sinai 361 contêm expressões como “ZT MMŠ” (Isto é de MŠ) e “NʾUM MŠ” (uma declaração de MŠ). Bar-Ron interpreta “MŠ” como uma forma antiga do nome Moisés.
Johannes Gutenberg University Mainz

A inscrição que se traduz para “isto é de Moisés”!, segundo o investigador independente.
O investigador garante ainda que as inscrições — escritas em protossinaítico, o alfabeto mais antigo conhecido e antecessor dos alfabetos semíticos — revelam marcas de autoria pessoal de Moisés, como uma assinatura, à direita e abaixo do texto principal, numa orientação diferente do resto da inscrição.
Com base no estilo linguístico, tom pessoal e estrutura poética, Bar-Ron acredita que todas as inscrições terão sido feitas por um único escriba semita com profundo conhecimento dos hieróglifos egípcios, o que condiz com o relato bíblico de que Moisés foi educado na corte do faraó.
“Em todos os quatro, os nomes estão à direita da inscrição principal, um pouco mais abaixo, e ou se afastam do texto principal ou apresentam glifos virados para a direção oposta ao texto principal”, o que, escreve Bar-Ron, “sugere que se tratam de assinaturas do autor.”
Fotografias de alta resolução, digitalizações 3D e estudo direto de moldes no Museu do Antigo Próximo Oriente de Harvard foram usados para fundamentar a alegação do investigador, segundo o Arkeonews.
Se a tese se confirmar, estas seriam as primeiras evidências epigráficas, fora da Bíblia, da existência histórica de Moisés.
José?
Além de apontarem para tensões religiosas entre egípcios e israelitas — suspeitam os investigadores, que encontraram referências à divindade hebraica “El” e sinais de desrespeito à deusa egípcia Hathor e elogios à deusa cananeia Ba’alat riscados por adoradores de El — as inscrições continham também as palavras “nimosh” (“saiamos”), o que poderá sugerir uma tentativa de registar os eventos do Êxodo em tempo real, sustenta Bar-Ron.
A investigação vai ainda mais longe e aponta para a possível existência de José, ou de quem inspirou o personagem bíblico, também ele associado ao Egito. Indícios da presença de povos semitas na corte egípcia, como uma estela de Reniseneb e um selo de um alto funcionário asiático, “podem sugerir um oficial da corte do faraó, semelhante a José, talvez o vizir semita Ankhu“.
“Enganador”
A longa investigação de Bar-Ron foi rapidamente recebida com ceticismo por alguns egiptólogos.
As conclusões de Bar-Ron são “completamente infundadas e enganadoras” na opinião do egiptólogo da Universidade da Colúmbia Britânica, Thomas Schneider, citado pelo Daily Mail: “identificações arbitrárias de letras podem distorcer a história antiga”.