“Aspirador celular” que limpa e regenera os músculos descoberto por cientistas do iMM

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Investigadores do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes descobriram uma proteína do sistema imunitário que consegue recuperar a capacidade de regeneração muscular no envelhecimento. 

O músculo é capaz de regenerar através de um processo que envolve vários passos e intervenientes, incluindo o sistema imunitário.

Mas, à medida que o nosso organismo envelhece, os músculos perdem a capacidade de regenerar.

Agora, um novo estudo liderado por Joana Neves e Pedro Sousa-Victor, investigadores principais no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), descobriu que é possível modular a função de células imunitárias para recuperar a capacidade de regeneração muscular numa idade avançada.

O estudo foi publicado esta quarta-feira na revista científica Nature Aging.

Os investigadores descobriram uma proteína que regula a função de um conjunto de células imunitárias, os macrófagos, promovendo a sua capacidade de limpar resíduos no músculo durante o processo de regeneração, usando como modelo ratinho numa idade avançada.

“Verificámos que o comportamento dos macrófagos está alterado em ratinhos idosos. Os macrófagos são um tipo de células imunitárias capazes de fazer fagocitose, que é o processo através do qual determinadas células ingerem e eliminam partículas“, diz Joana Neves, investigadora principal no iMM e co-líder do estudo, citada pelo EurekAlert.

“Durante o processo de regeneração, os macrófagos são responsáveis pela remoção das células mortas do músculo após a lesão, que é uma etapa normal do processo de regeneração muscular. Os macrófagos atuam como um “aspirador” celular, limpando a “sujidade” do músculo”, acrescenta Joana Neves.

Os investigadores descobriram que os macrófagos em ratinhos idosos têm níveis reduzidos da proteína MANF que é crucial para este processo.

“De facto, esta proteína é tão importante neste processo que se diminuirmos os níveis de MANF nos macrófagos de ratinhos mais novos, a sua capacidade de regenerar o músculo também fica prejudicada”, acrescenta Neuza Sousa, estudante de doutoramento no iMM e primeira autora do estudo.

“Por outro lado, aumentar os níveis da proteína MANF no músculo de ratinhos idosos é suficiente para recuperar a sua capacidade regenerativa“, continua Neuza Sousa.

Sobre as implicações do estudo para a medicina regenerativa e o envelhecimento, Pedro Sousa-Victor, co-líder do estudo e também investigador principal no iMM, afirma: “Uma promessa central da medicina regenerativa é a capacidade de reparar órgãos envelhecidos ou doentes através da utilização de células estaminais”.

Jorge Figanier Castro

Joana Neves e Pedro Sousa-Victor, investigadores principais no Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes

“Esta abordagem vai tornar-se provavelmente uma estratégia eficaz para o rejuvenescimento dos órgãos, mantendo o potencial de prolongar a idade saudável humana ao atrasar o aparecimento de doenças relacionadas com o envelhecimento. O nosso estudo mostra que o envelhecimento imunitário é um obstáculo importante à capacidade regenerativa do músculo envelhecido”, acrescenta o investigador.

O sucesso clínico das terapias atuais baseadas em células estaminais tem como limitação a capacidade de regeneração dos órgãos envelhecidos ou doentes.

Os investigadores encontraram agora um alvo que pode ser usado para melhorar a função do sistema imunitário no músculo envelhecido. “Acreditamos que a MANF poderá ser usada no futuro como um suplemento para melhorar a eficácia das terapias regenerativas musculares atuais”, conclui Pedro Sousa-Victor.

Estas descobertas podem vir a ser utilizadas para promover a função reparadora do sistema imunitário e melhorar o sucesso das terapias baseadas em células estaminais para a regeneração muscular.

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