Tal como os bebés que choram nos aviões nos incomodam, também as traças se sentem stressadas com o “choro” das plantas. Não as ouvimos, mas os seus sons de angústia podem ser bem audíveis (e chatos) para os insetos.
Um artigo publicado na revista eLife em novembro deste ano sugere que os insetos escutam os sons produzidos pelas plantas que sofrem — e com base nesses ruídos tomam a decisão mais importante das suas vidas.
“Todos os filhos das traças vão desenvolver-se com base nessa escolha específica que ela fez, e ela tem de fazer uma decisão rápida e muito boa”, explica Rya Seltzer, entomologista da Universidade de Tel Aviv, citada pelo The New York Times.
Algumas traças são capazes de ouvir os estalidos produzidos pelas plantas, dizem os investigadores, que afirmam agora ter descoberto que os insetos podem interpretar os sons como uma pista para escolherem a planta onde vão depositar os ovos.
Os cientistas fizeram o teste com uma espécie de traça chamada bicho-do-algodoeiro egípcio, que se sabe que é capaz de ouvir os sons produzidos por algumas plantas. E há várias que estão mesmo angustiadas.
Mas porque é que as plantas choram?
Porque estão desidratadas, por exemplo. Tal como um bebé que tem fome ou sede, também as plantas se expressam da mesma maneira, com uma leve diferença — não incomodam os humanos.
No caso de estudo,os cientistas depressa perceberam que as traças preferiam depositar os seus ovos numa planta próspera, que é mais provável que forneça alimentos suficientes para as larvas recém-nascidas, em vez de numa planta desidratada.
Mas e se essa planta fizer ruídos angustiantes? Aí o caso muda de figura. Às fêmeas foram apresentados dois tomateiros hidratados, ambos saudáveis. Só que um deles emitia sons pré-gravados angustiantes que seriam emitidos por um tomateiro desidratado. As traças, descobriram, preferiam indubitavelmente colocar os seus ovos na planta “silenciosa”, explicam os investigadores.
Agora, resta apenas provar este estudo numa experiência no meio natural, uma vez que os comportamentos em laboratório podem ser diferentes, explicam os cientistas. Ainda assim, “isto é completamente novo”, explica a autora.
Jodi Sedlock, ecologista sensorial da Universidade Lawrence, em Wisconsin, acredita que seria era necessária investigação adicional, por exemplo, sobre a forma como as traças podem utilizar estas pistas acústicas em combinação com odores e outros sinais de uma planta.
Diz que também que “muitos insetos ouvem ultra-sons e muitas plantas produzem ultra-sons sob stress“, disse. “Aposto que se trata de um fenómeno muito amplo”.
De acordo com Francesca Barbero, zoóloga da Universidade de Turim, este estudo “pode abrir caminho para novas investigações sobre bioacústica vegetal“.