As lulas também conseguem mudar de cor

Pela primeira vez são capturadas imagens em vídeo de lulas a usarem camuflagem colorida.

Uma espécie de lula oval de Okinawa, localmente conhecida como Shiro-ika, está a ser estudada e criada na Estação de Ciências Marinhas da Universidade de Pós-Graduação do Instituto de Ciências e Tecnologia de Okinawa (OIST).

Este animal exibiu capacidades de camuflagem surpreendentes nunca antes registadas em lulas.

De acordo com a Scitechdaily embora o polvo e o choco sejam famosos pelo uso de camuflagem para combinar com a cor do substrato, um terceiro tipo de cefalópode — a lula — nunca foi relatado com esta capacidade.

Num novo estudo publicado na Scientific Reports em março deste ano, os cientistas demonstraram que as lulas podem e irão camuflar-se combinando com a cor de um substrato para evitar predadores. Para determinar isto, os cientistas realizaram uma experiência em laboratório para registar as capacidades de camuflagem da lula.

Os investigadores salientaram que para além de abrir caminhos excitantes para explorar as capacidades visuais do animal, o estudo mostra que o substrato é claramente útil para que estas lulas sobrevivam.

As lulas geralmente pairam no oceano aberto, mas queríamos saber o que acontece quando se aproximam um pouco mais de um coral ou se são perseguidas por um predador até ao fundo do oceano”, explicou um dos três primeiros autores, o Dr. Ryuta Nakajima, investigador visitante do OIST.

“Se o substrato é importante para as lulas para evitar a predação, isso indica que os aumentos ou diminuições das populações de lulas estão ainda mais ligados à saúde do coral do que pensávamos”.

Estudos anteriores sobre camuflagem de cefalópodes têm sido realizados principalmente em chocos e polvos. As lulas, como um animal que tende a viver em mar alto, são notoriamente difíceis de manter em cativeiro e por isso têm sido bastante evitadas para este tipo de investigação. Mas, desde 2017, os cientistas da Unidade de Física e Biologia do OIST têm vindo a criar uma espécie de lula oval em cativeiro.

Esta lula, é uma das três lulas ovais encontradas em Okinawa. Quando estão no mar, são de cor clara, o que significa que se misturam na superfície do oceano e com a luz solar cintilante acima. Mas os investigadores suspeitaram que quando se aproximassem do fundo do oceano, a história seria completamente diferente.

Na Estação de Ciências Marinhas do OIS, as lulas ovais foram, quase acidentalmente, observadas camufladas para o substrato pela primeira vez. Os investigadores estavam a limpar o seu tanque para remover o crescimento das algas e notaram que os animais estavam a mudar de cor dependendo se estavam sobre a superfície limpa ou sobre as algas.

Na sequência desta observação, os investigadores realizaram uma experiência propositada e controlada. Mantiveram várias lulas num tanque e limparam metade do tanque, deixando a outra metade coberta de algas. Colocaram uma câmara subaquática dentro de água e suspenderam uma câmara normal acima, para que pudessem capturar e realizar testes estatísticos sobre qualquer mudança de cor.

Os resultados foram claros. Quando as lulas estavam no lado limpo do tanque, eram de cor clara. Mas quando estavam acima das algas, rapidamente se tornaram mais escuras.

Com esta experiência os investigadores descobriram uma capacidade que nunca tinha sido relatada anteriormente nas lulas. Os cientistas salientaram que para além de abrir caminhos excitantes para explorar as capacidades visuais do animal, o estudo também mostrou que o substrato é claramente útil para a sobrevivência destas lulas.

Este efeito é realmente impressionante“. Ainda me surpreende que ninguém tenha reparado nesta capacidade antes de nós”, disse Dr. Zdenek Lajbner, outro primeiro autor. “Mostra o pouco que sabemos sobre estes animais maravilhosos”.

O Dr. Nakajima afirmou que esta lula em particular é importante para Okinawa, por razões económicas e culturais.

“Na verdade, foram os pescadores locais os primeiros a distinguir três espécies de lulas ovais em Okinawa, muito antes dos cientistas“, disse o Dr. Nakajima.

“Esperamos continuar a explorar as capacidades de camuflagem desta espécie e dos cefalópodes em geral”, disse o Prof. Jonathan Miller, Investigador Principal da Unidade de Física e Biologia do OIST e o autor sénior do artigo de investigação.

Inês Costa Macedo, ZAP //

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