As crianças mentem – por 3 motivos principais

Quando a fantasia se mistura com a realidade, quando há uma ameaça na ligação com os pais, ou quando está em causa a independência.

Ouvimos constantemente a ideia de que as crianças são “o melhor do mundo” porque, entre outros motivos, são sinceras. Nunca mentem.

No mundo do espectáculo, por exemplo, é frequente um artista dizer que prefere estar com crianças na plateia porque assim o público é honesto, transparente. Vê logo que impacto o seu espectáculo criou.

Mas as crianças também mentem. Com três motivos principais para isso, resume a psicóloga Becky Kennedy.

No livro Eduque sem medo, Becky começa por avisar que mentir raramente é um sinal de desobediência, dissimulação ou sociopatia.

Aos pais, não adianta (até é desaconselhável) criar uma luta de poder, sobre um alegado desrespeito ou tentativa de engano. Ninguém ganha essa luta.

E raramente é uma questão de manipulação ou engano propositado. Mentir está muito mais relacionado com os desejos básicos de uma criança e com o seu foco no apego.

Nos três motivos ligados às mentiras, o primeiro é quando a fantasia se mistura com a realidade. Essa linha ténue, que se confunde mais nas crianças do que nos adultos. É o jogo do faz de conta, em que as leis da realidade não são um limite: há mundos diferentes, personagens que nem existem. A criança controla a narrativa e sente-se melhor e mais segura com esta nova estória.

O segundo motivo é uma ameaça: a ameaça de a relação com os pais quebrar se disser a verdade. Ou seja, a criança sabe o que realmente aconteceu, mas também pergunta: “Se eu contar a verdade, os meus pais vão pensar que sou má? Deixam de gostar de mim?” – e, por isso, preferem mentir. Porque ser vista como uma criança má é a maior ameaça na infância (sobretudo se forem os pais a dizer a frase). É a auto-defesa a funcionar.

O terceiro e último motivo é a afirmação da independência da criança. Se a criança se sente controlada, provavelmente vai mentir. Qualquer ser humano precisa de ter uma parte da vida separada dos pais – mesmo quando são crianças. “Se querem que eu só coma fruta à sobremesa todos os dias, hoje vou comer chocolate” – é o momento do “eu”, do “eu escolhi isto”. É a sensação necessária de propriedade, de soberania.

Cabe aos pais perceber a origem e criar um ambiente no qual dizer a verdade torna-se mais possível.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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