Uma equipa de cientistas descobriu que as bactérias dos microbiomas intestinais podem proteger-se mutuamente dos medicamentos — apesar de este acontecimento falhar em concentrações mais elevadas.
Há diversos medicamentos que podem inibir o crescimento e perturbar a função das bactérias do nosso microbioma intestinal. No entanto, esse impacto é reduzido quando estas bactérias formam comunidades.
Segundo o SciTechDaily, os investigadores compararam diversas interações droga-microbioma entre bactérias cultivadas isoladamente e as que fazem parte de uma comunidade microbiana complexa.
Num novo estudo, publicado na semana passada na Cell, os cientistas investigaram a forma como 30 medicamentos diferentes (incluindo os que se destinam a doenças infeciosas ou não infeciosas) afetam 32 espécies bacterianas diferentes.
As 32 espécies foram escolhidas como representativas do microbioma intestinal humano com base em dados disponíveis em cinco continentes.
Seguidamente, descobriram que, quando juntas, algumas bactérias resistentes aos medicamentos apresentam comportamentos comunitários que protegem outras bactérias sensíveis aos medicamentos.
Este comportamento de “proteção cruzada” permite que essas bactérias sensíveis cresçam normalmente quando em comunidade, na presença de medicamentos que as teriam matado se estivessem isoladas.
Por sua vez, verificaram que concentrações elevadas de fármacos provocam o colapso das comunidades do microbioma e que as estratégias de proteção cruzada são substituídas pela “sensibilização cruzada“.
Na sensibilização cruzada, as bactérias que normalmente seriam resistentes a certos fármacos tornam-se sensíveis a eles quando estão numa comunidade, o oposto do que acontecia em concentrações mais baixas de fármacos.
“Estas descobertas mostram que as bactérias intestinais possuem um potencial de transformação e acumulação de fármacos mais do que se pensava”, diz o coautor do estudo, Michael Zimmermann.
Os cientistas também utilizaram este novo conhecimento das interações de proteção cruzada para criar comunidades sintéticas capazes de manter a sua composição intacta após o tratamento com medicamentos.
Além disso, estão também a estudar a forma como as interações entre espécies são moldadas pelos nutrientes, de modo a podermos criar modelos ainda melhores para compreender as interações entre bactérias, medicamentos e o hospedeiro humano.
Este estudo é um crucial para compreender como os medicamentos afetam o nosso microbioma intestinal. Futuramente, este conhecimento poderá ser usado para adaptar as prescrições de forma a reduzir os efeitos secundários dos medicamentos.