Os frescos de 500 anos na Villa Farnesina de Roma estão a ser protegidos da poluição atmosférica por árvores no jardim do edifício.
As árvores podem proteger monumentos históricos e obras de arte de danos causados pela poluição atmosférica, de acordo com investigações efetuadas numa villa construída em Roma, durante a Renascença italiana.
O material emitido pelos travões dos carros pode ser altamente prejudicial para os monumentos históricos e para as obras de arte.
Ao longo do tempo, acumula-se em superfícies, criando camadas escuras e descoloração que, muitas vezes, resultam em danos irreversíveis.
Este é um problema particular em cidades como Roma, que são simultaneamente ricas em arte e monumentos históricos, e altamente poluídas.
Aldo Winkler, do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia em Roma, decidiu procurar soluções com alguns colegas investigadores.
Decidiram monitorizar o papel que as árvores podiam desempenhar na redução do impacto dessa poluição na obra de arte na Villa Farnesina.
A villa, no centro de Roma, foi construída no início do século XVI. É famosa pelos seus frescos, muitos deles criados pelo famoso pintor Rafael e considerados obras-primas da época, segundo noticia a New Scientist.
“A villa Farnesina é o local perfeito para fazer este tipo de estudo porque alberga estas fantásticas obras de arte históricas e está numa zona urbana que tem bastante tráfego de veículos”, explica Winkler.
A equipa de investigação testou se as folhas das árvores nas estradas próximas e nos jardins da villa acumulavam partículas de veículos emitidas pelo tráfego intenso da rua, impedindo-as de chegar aos frescos no interior do edifício.
Os investigadores utilizaram técnicas de bio-monitorização magnética para avaliar o nível de poluição atmosférica. O seu método baseia-se num princípio simples: as folhas de uma árvore numa área não poluída devem ter propriedades magnéticas muito fracas, se existirem.
Mas à medida que acumulam partículas ricas em ferro emitidas pelos automóveis, as suas propriedades magnéticas intensificam-se.
As partículas em suspensão provêm principalmente dos travões dos automóveis, que são a principal fonte de poluição por partículas em ambientes urbanos.
Dentro da villa, onde não há árvores, a equipa colocou líquenes (Evernia prunastri) em várias salas, de acordo com o estudo publicado a 1 de junho na Science Direct.
Também colocaram líquenes no exterior com as árvores, e deixaram-nos durante três meses, para conseguiram observar de que forma é que a distância da rua e a proximidade das árvores afetava os níveis de poluentes.
Os investigadores descobriram que as folhas das árvores e os líquenes fora da villa eram até 40 vezes mais magnéticos do que os líquenes dentro, indicando que as árvores desempenhavam um papel importante, ao impedir que as partículas poluentes chegassem aos quartos interiores da villa e às suas obras de arte.
Verificaram também que os níveis de poluentes aumentavam quanto mais perto os líquenes estavam da estrada, confirmando que a obra de arte estava mais em risco, se estivesse mais perto da estrada.
A utilização de líquenes como técnica de bio-monitorização é conhecida como uma forma altamente eficaz e de baixo custo de medir os níveis de poluição atmosférica, mas o estudo de Villa Farnesina é a primeira vez que este método foi utilizado como parte dos esforços históricos de conservação da arte.
Os investigadores também encontraram diferenças entre a eficácia com que diferentes espécies de árvores podem capturar poluentes.
Por exemplo, as elevadas leituras magnéticas registadas nos ciprestes da villa sugerem que oferecem melhor proteção do que as árvores mais planas.
“Cada espécie de árvore tem uma capacidade diferente de acumular e armazenar as partículas”, explica Winkler. “A próxima coisa a fazer é estudar que tipos de árvores devemos plantar e onde, para maximizar os seus efeitos protetores“.
Estão em curso planos para realizar um estudo semelhante em dois outros locais históricos da cidade, o Coliseu e o seu vizinho Monte Palatino — uma área rica em ruínas arqueológicas da Roma antiga.
Enquanto a equipa de investigação está entusiasmada com o potencial das árvores para a preservação do património cultural, Winkler salienta a necessidade de pensar também nas causas raiz.
“No final do dia, a melhor prevenção é reduzir o número de carros na estrada, especialmente nos centros das cidades”, avisa Winkler.
“Mas quando isso não é possível, as árvores podem ser um excelente remédio para mitigar os efeitos nocivos da poluição atmosférica nos monumentos históricos e obras de arte”, conclui o especialista.