Miguel A. Lopes / Lusa

Manifestante sentou-se em cima de uma zona de remoção, impedindo os trabalhos que iniciaram esta quinta feira
Esta sexta-feira, a Câmara Municipal de Lisboa começou a plantar jacarandás na Avenida 5 de Outubro. Dias antes, removeu árvores na mesma avenida. O que se passa e porque é que a população está revoltada?
Esta semana, a Câmara Municipal de Lisboa arrancou com o abate de 25 árvores e a transplantação de outras 20 na Avenida 5 de Outubro. O assunto tem dado que falar em Lisboa, e até já foi notícia na imprensa internacional, de que é exemplo o Courrier, jornal francês que noticiou esta sexta feira a “onda de protestos” que se vive na capital — tudo por causa de jacarandás. O que aconteceu?
Tudo começou com o anúncio do município: a Câmara vai replantar 39 jacarandás e 49 outras árvores na Avenida para a abrir espaço para a construção de um parque de estacionamento. Tudo “por razões de urbanismo”, argumenta a Câmara.
Esta quinta feira, algumas árvores foram já arrancadas, e o PAN lançou mesmo uma providência cautelar contra a ação. Ao mesmo tempo, já na passada sexta feira, os lisboetas lançaram ainda a petição “Não ao abate dos jacarandás da Av. 5 de Outubro”, que conta já com 51 mil assinaturas.
Estas árvores, originárias do Brasil, são já imagem de marca de Lisboa há muitos anos. Segundo conta a NiT, chegaram pela primeira vez ao Jardim Botânico da Ajuda no século XIX, e desde então pintam a cidade de um lilás vivo e característico. A Avenida 5 de Outubro é uma das que há muitos anos vê os jacarandás colorir a rua.
É claro que têm as suas desvantagens, que a própria autarquia ressalta. “As reclamações chegam sobretudo na época de floração quando a flor começa a cair e torna os pavimentos muito sujos e com um cheiro eventualmente desagradável”, explica o município.
No entanto, os lisboetas não gostaram do anúncio de destruição da biodiversidade em prol da construção de lugares de estacionamento. No dia das primeiras remoções saíram à rua em protesto. Uma manifestante chegou mesmo a sentar-se em cima de um dos locais de remoção, impedindo os trabalhos. Foi eventualmente levada pela polícia do local.
Esta sexta feira, porém, uma fonte do gabinete do presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, confirmou à Lusa que estão novamente a ser plantados jacarandás na Avenida 5 de Outubro, um dia depois de terem começado os “trabalhos preparatórios” para transplantação.
Antes desta confirmação por parte da câmara, fonte da Junta de Freguesia de Avenidas Novas, presidida por Daniel Gonçalves (PSD), disse à Lusa que foi “apanhada de surpresa” com a plantação de jacarandás na Avenida 5 de Outubro, desde as 10:00 de hoje, afirmando que não houve qualquer aviso por parte do executivo municipal.
Rui Mourão, presidente do Movimento de União em Defesa das Árvores (MUDA), que se tem manifestado contra o projeto, comunicou esta sexta feira que “pela cidade toda há caldeiras vazias, árvores a serem cortadas, sem apresentação de relatórios fitossanitários, portanto este problema que está nesta avenida é mais largo, é na cidade toda, há uma verdadeira matança de árvores”.
A replantação das árvores não é, portanto, para quem defende a existência destas árvores na Avenida, uma substituição plausível.
“Muitas vezes aparece essa ideia de compensação, que é uma falsa compensação, que é matar uma árvore de grande porte e ‘substituir’, porque não é substituível, por uma jovem que não faz o mesmo, não tem o mesmo valor ecológico que uma árvore grande, de captura de carbono, produção de oxigénio, sombreamento, portanto na questão climática”, remata o ativista.
Carolina Bastos Pereira, ZAP // Lusa