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A arte salvou Valentino Dixon, um inocente condenado por homicídio nos EUA

Condenado por crime um crime que não cometeu, Valentino Dixon desenhava campos de golfe para ocupar o tempo na cadeia. O seu talento despertou interesse da revista norte-americana Golf Digest, que trouxe caso a público e impulsionou a sua absolvição.

Nos anos 1990, o americano Valentino Dixon foi condenado injustamente homicídio. Após 27 anos a cumprir pena, conseguiu finalmente a absolvição. O seu talento e uma reportagem publicada numa revista de golfe devolveram-lhe a liberdade.

Dixon deixou a prisão nesta quarta-feira depois de uma audiência na cidade de Buffalo, no estado norte-americano de Nova Iorque. O tribunal decidiu revogar a pena imputada há décadas atrás, após um pedido de revisão do caso – a felicidade de Dixon era óbvia.

O americano, atualmente com 48 anos, foi condenado pela morte de Torriano Jackson, um jovem de 17 anos. O caso, que remota a agosto de 1991, ocorreu após uma discussão na cidade de Buffalo. Foi-lhe imputada uma pena mínima de 38 anos, que podia ser estendida para prisão perpétua – Dixon disse sempre ser inocente.

Ciente de que poderia ficar preso durante décadas, Dixon dedicou-se a uma paixão antiga na prisão: o desenho. Inicialmente, o objetivo era apenas passar o tempo, mas o seu talento não passou despercebido, acabando por chamar a atenção dos funcionários da prisão Attica Correctional Facility, onde cumpria pena.

O interesse pelos campos de golfe surgiu de forma inesperada quando o diretor do estabelecimento prisional entregou a Dixon uma foto de um clube de golfe, pedindo-lhe que reproduzisse a paisagem. A partir daí, os campos verdes e os famosos buracos tornaram-se no seu objeto de desenho favorito – e resultaram em dezenas de obras.

“Sentado na minha cela, eu disse: “Estes desenhos estão a salvar a minha vida. Estou aqui sentado por um crime que não cometi, com os dias contados”, disse Dixon em declarações ao The Washington Post.

“Estes desenhos animaram o meu espírito de uma forma que não é possível descrever. Era quase como se eu estivesse num campo de golfe”, contou.

Das telas até à Justiça

Para continuar com os seus desenhos, Dixon procurou inspiração numa edição da revista Golf Digest – publicada nos Estados Unidos para os amantes do golfe –, que lhe tinha sido emprestada por um colega da prisão.

Na revista acabou por encontrar um texto, assinado pelo diretor editorial da revista, Maz Adler, intitulado “O golfe salvou a minha vida”. Dixon não conseguiu ficar indiferente à publicação e resolveu enviar alguns dos seus desenhos, bem como o arquivo do seu caso na Justiça, para o jornalista.

Quem também não ficou indiferente foi Adler, que começou a investigar o caso e, em 2012, publicou um extenso perfil, no qual contava a história de um inocente que tinha sido condenado por homicídio. Por sua vez, a reportagem chegou até aos estudantes de Direito da Universidade de Georgetown, que decidiram lutar pela liberdade de Dixon.

Os estudantes incluíram o caso de Dixon no projeto universitário Prisons and Justice Initiative, que representa legalmente condenados de forma gratuita, lutando contra o encarceramento em massa nos Estados Unidos.

A batalha pela absolvição de Dixon chegou agora ao fim com a decisão do tribunal norte-americano. Um outro homem, Lamarr Scott, acabou por se declarar culpado dos crimes.

Ao deixar a prisão, o norte-americano foi recebido pela sua mãe, a avó de 90 anos, uma das suas filhas e os seus netos. Três das quatro filhas de Dixon eram ainda bebés, quando este foi condenado injustamente.

“Eu sempre soube que este dia iria chegar”, declarou. “Mas nunca pensei que fosse demorar tanto tempo. Sempre acreditei que saísse um ano depois, ou no mês seguinte. Eu pensava: as evidências estão lá, como é que os tribunais podem negar as evidências?”

Bastou que a arte tivesse despertado a atenção alheia para que um homem inocente fosse libertado – ainda que 27 anos depois.

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