Arriba de 250 milhões de anos ameaçada para facilitar acesso à praia

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Uma arriba de cerca de 250 milhões de anos, situada na Costa Vicentina, está ameaçada pelas obras que a Câmara Municipal de Vila do Bispo está a fazer na área, de modo a facilitar o acesso à praia do Telheiro, em Sagres.

A denúncia foi feita por geólogos e levou a Inspecção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território a determinar a suspensão de “qualquer intervenção na área enquanto não foi devidamente comprovada a legalidade das intervenções em causa”, conforme cita o jornal Público.

A autarquia decidiu terraplanar o local onde se situa esta arriba fóssil que está situada na área do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicente e que, segundo Ana Ramos, da Universidade de Lisboa, é “um monumento que não se vê em mais lado nenhum em Portugal e que é muito raro encontrar, mesmo na Europa”.

O presidente da Câmara Municipal de Vila de Bispo, Adelino Soares, desvaloriza, contudo, a revolta dos geólogos e dos ambientalistas, considerando no mesmo jornal que as obras são apenas “melhoramentos num caminho pré-existente”.

O autarca fala em “fundamentalismo” e frisa que o objectivo é somente “melhorar o acesso à praia do Telheiro, permitindo o acesso aos veículos de socorro em caso de acidente”.

ZAP

5 Comments

  1. Deixem-se de tretas… Todas as estradas firam feiras em sitios que existem. há milhões de anos…o terreno onde o meu predio está já estava cá desde sempre…

  2. Apenas duas notas, eventualmente não “políticamente corretas”, mas em nome do rigor da linguagem científica e da informação que está a ser divulgada, que tanto tem empolgado a comunidade de geólogos (à qual pertenço) e preocupado o público em geral, sensível ao património que nos revela episódios relevantes da História da Terra:
    1º – Tem-se escrito, insistentemente, nos últimos dias, que a arriba tem 250 milhões de anos. está errado! A arriba é de idade Quaternária, provavelmente posterior ao último período glaciário; assim sendo, seguramente que ela terá menos de 1 milhão de anos. As rochas que afloram nessas arribas, na parte norte da praia do Telheiro, essas sim, têm idades do Carbónico superior até ao Triássico (e início do Jurássico na parte mais a sul), ou seja as rochas mais antigas terão idade da ordem dos 300 milhões de anos, de acordo com as mais recentes tabelas cronostratigráficas publicadas. Uma arriba é um elemento geomorfológico e esse, como referi, é muito recente na História da Terra.
    2º – Não conheço o local exato da implantação das anunciadas obras de acesso à praia do Telheiro, mas duvido que possam prejudicar o afloramento que está no Inventário de Geossítios de Relevância Nacional (vide http://geossitios.progeo.pt/geositecontent.php?menuID=&geositeID=988). Com efeito, aquele afloramento encontra-se numa praia praticamente sem possibilidade de acesso, sobretudo para quem não conhece bem a dinâmica das marés. Falar-se de obras na praia do Telheiro, a priori causa “arrepios”, porque o nome de um dos mais relevantes geossítios de Portugal, e mesmo de nível internacional, usa exatamente o nome “praia do Telheiro”. Mas, na realidade, esse geossítio situa-se numa enseada a norte da praia do Telheiro (confesso que desconheço a sua designação) porque este é o nome toponímico mais próximo, do conhecimento do público em geral. Bastará ver no Google Earth – passe a publicidade – porque quem conhece o afloramento, verifica rapidamente que dista cerca de 500 m do local onde penso que estará prevista a obra de melhoramento do acesso à praia do Telheiro. Nem outra coisa faria sentido – apesar de, infelizmente assistirmos permanentemente a coisas que não fazem sentido – porque a enseada onde se localiza o geossítio não tem condições para a prática balnear e nem sequer do ponto de vista estético poderá de alguma forma ser afetado, porque existe um promontório entre os 2 locais. Para os leitores que conhecem a utilização deste software poderem fundamentar a sua opinião de maneira mais rigorosa, deixo aqui as suas coordenadas:
    – centro da praia do Telheiro: 37° 2’44.33″N 8°58’44.89″W
    – centro da enseada onde se localiza o geossítio da praia do Telheiro: 37° 3’0.88″N 8°58’50.12″W
    Quero que fique claro que a minha opinião relativamente a este segundo ponto fica, de forma determinante, condicionada à necessidade de conhecer o projecto com maior detalhe, muito para além daquilo que tem vindo a público nos órgãos de comunicação, mas fica aqui desde já uma tentativa de trazer informação adicional que julgo relevante para uma abordagem mais rigorosa sobre o assunto.
    Cumprimentos

    • Os meus parabéns.
      O seu elucidativo e fundamentado comentário destoa da generalidade dos comentários bacocos a que, infelizmente, já nos habituámos.

  3. Será mais alguma proteção á moda do val do Côa enquanto os monumentos nacionais parte deles vão caindo de velhos sem que isto incomode muita gente.

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