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Arquiteto quer suspender edifícios em pleno ar. Não é tão impossível como parece

Framlab

Edifício suspenso no meio de uma rua

Acima do nível da rua flutua um recurso inexplorado. Este espaço aéreo — o vazio acima da estrada e entre edifícios — está, por várias razões práticas, por utilizar.

Surpreendentemente, uma proposta de design apoiada pela ciência sugere que este vazio não tem de ficar simplesmente… vazio. Em vez disso, o ar na parte de cima da rua pode ser transformado num local de construção.

O novo projeto, chamado Oversky, propõe uma série de estruturas que seriam capazes de preencher este espaço aéreo não utilizado.

Com base na mesma tecnologia que permite a um zepelim flutuar, estas estruturas combinar-se-iam num conjunto de salas no céu, ligadas a edifícios adjacentes ou outras estruturas fixas, para permitir o acesso, segundo a Fast Company.

Desenvolvido por Andreas Tjeldflaat, arquiteto da Framlab, o projeto é uma tentativa de mostrar como o vazio urbano, dezenas de metros acima da rua, pode ser utilizado.

“A ‘paisagem de nuvens’ formada serve como um novo tipo de espaço público”, esclarece Tjeldflaat.

O arquiteto descreve-o como um sistema de infraestrutura especulativo, baseado em tecnologias comprovadas, incluindo a utilização de células fechadas de fibra de carbono de hélio mais leve que o ar e inerte, permitindo que as construções mantenham uma estrutura rígida e pairem como pequenas aeronaves inflamáveis.

Encaixados como se fossem um jogo de Tetris, estes módulos flutuantes podem atuar como salas individuais, escritórios, ou armazéns no céu.

“Um passadiço suspenso permite a ligação dos aglomerados às fachadas de edifícios adjacentes”, sublinha Tjeldflaat.

Mas este conceito não é apenas arte arquitetónica no céu. Pode também ser um novo instrumento na luta urbana contra as alterações climáticas.

Uma questão omnipresente que as cidades de todo o mundo enfrentam é o chamado efeito de ilha de calor urbana. Edifícios densos e ruas pavimentadas absorvem e retêm mais calor do que terrenos não desenvolvidos ou naturais, tornando as cidades mais quentes, e levando ao aumento da utilização de aparelhos de ar condicionado e das emissões que estes produzem.

Os módulos propostos por Oversky criariam microclimas com sombra, que refletiriam a luz solar e a radiação, devolvendo ao céu o que de outra forma seria absorvido pela superfície densa do ambiente construído.

Através do que Tjeldflaat chama engenharia nanofotónica, os módulos apresentariam “uma estrutura de material semelhante a espuma com bolsas de ar em nanoescala”, capazes de irradiar calor de volta para a atmosfera, ao mesmo tempo que arrefeciam o espaço que apanharia a sombra em baixo.

As árvores, claro, proporcionam este tipo de sombra de forma bastante eficaz, mas o Oversky pretende ser ainda maior e mais eficiente.

Os primeiros projetos do conceito de Tjeldflaat mostram a construção a cobrir apenas uma parte do espaço entre edifícios, de modo a não tapar completamente o sol aos peões e habitantes urbanos abaixo.

Recentemente exposto numa exposição sobre arquitetura e alterações climáticas no museu de arte Bildmuseet da Suécia, o projeto sugere uma alternativa às nossas atuais formas — altamente poluentes — de ar condicionado.

Um ar condicionado convencional descarrega uma quantidade significativa de calor, bem como compostos hidrofluorocarbonos poluentes, “agravando a própria questão que procura mitigar”, alerta Tjeldflaat.

O arquiteto chama a atenção para o facto de grande parte do ar condicionado utilizado nas cidades depender da energia dos combustíveis fósseis — um problema que, provavelmente, se venha a agravar.

“Estima-se que a procura global de arrefecimento requer um triplo aumento da utilização de energia até 2050”, insiste Tjeldflaat.

Oversky é uma solução altamente teórica. Mas Tjeldflaat argumenta que mesmo que estes módulos flutuantes não estejam a chegar rapidamente a um vazio aéreo urbano, os materiais e conceitos por detrás da ideia poderiam ser implementados hoje em dia em mais projetos “down-to-earth” (tradução livre: mais realistas).

“Os painéis dos módulos podem certamente ser utilizados por si próprios como parte de projetos de construção e infraestruturas mais convencionais“, conclui.

Alice Carqueja, ZAP //

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