O arquitecto da “Big Lie” de Trump é o novo líder do Congresso (e pode mudar tudo na Ucrânia)

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Jim Lo Scalzo/ EPA

Mike Johnson, Presidente da Câmara dos Representantes

Um fervoroso apoiante de Trump e crítico do apoio incondicional à Ucrânia, Mike Johnson é o novo Presidente da Câmara dos Representantes.

Depois de várias semanas de impasse, a Câmara dos Representantes dos EUA já tem um novo Presidente. O congressista Mike Johnson, uma figura que encapsula a ala mais radical inclinação dos Republicanos, foi o escolhido para suceder a Kevin McCarthy.

A eleição de Johnson ocorre após uma série de desistências de outros candidatos Republicanos ao cargo, incluindo Kevin Hern, Steve Scalise e Jim Jordan, o que tornou a sua vitória possível.

Tom Emmer, o terceiro candidato à nomeação, retirou-se da corrida horas depois de ter sido escolhido como nomeado, seguido de uma repreensão de Trump e resistência dentro do partido.

O novo presidente da Câmara foi apoiado por Kevin Hern, que preside o influente Comité de Estudos Republicanos e retirou a sua própria candidatura em favor de Johnson. Hern afirmou que a corrida pela presidência tinha-se tornado mais sobre pessoas do que sobre o futuro da América, razão pela qual decidiu apoiar Johnson.

Conversador de linha dura

Depois de se formar em administração de empresas pela Universidade Estadual do Louisiana e obter um doutoramento em Direito pelo Paul M. Hebert Law Center, Johnson assumiu funções como professor universitário e apresentador de rádio conservador.

O político foi o primeiro da sua família a concluir o ensino superior e já revelou que as suas ambições iniciais foram alteradas devido a um acidente que incapacitou o seu pai, bombeiro de profissão, refere a CNN.

Johnson começou a sua carreira política na legislatura do Louisiana e foi eleito para o Congresso pela primeira vez em 2016, onde representa o quarto distrito do estado e atua no Comité Judiciário e no Comité de Serviços Armados.

O seu percurso tem sido definido pelas suas posições fortemente conservadoras em questões fracturantes, que são influenciadas pelas suas crenças religiosas.

Uma destas questões é o aborto, onde Johnson deixou a sua postura bem clara durante uma audiência no ano passado com Yashica Robinson, uma defensora dos direitos reprodutivos, onde lhe perguntou se defende o direito ao aborto para “uma mulher que está a segundos de dar à luz uma criança saudável”.

Além disso, Johnson tem um historial de declarações e ações que denunciam os direitos LGBTQ, tendo já descrito o casamento entre pessoas do mesmo sexo como um “prenúncio sombrio de caos e anarquia sexual“. Johnson também se opôs à legislação federal que reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Grande aliado de Trump

O congressista é também um aliado fervorosamente leal de Trump e apoiou a sua “Big Lie” — a conspiração que refere que Joe Biden venceu as eleições de 2020 de forma fraudulenta.

O representante chegou a usar o seu email pessoal para mobilizar o apoio contra a contagem dos votos do colégio eleitoral, enviando um email a todos os Republicanos da Câmara para solicitar assinaturas para um “amicus brief” no processo que procurava invalidar a vitória de Biden em quatro estados decisivos (Geórgia, Michigan, Pensilvânia e Wisconsin).

A ação, movida pelo procurador-geral do Texas, Ken Paxton, pedia ao Supremo Tribunal para adiar a votação do colégio eleitoral nos quatro estados para que as investigações sobre a suposta fraude. O processo alegava que os quatro estados alteraram as suas regras de votação sem a aprovação expressa dos seus legisladores antes das eleições de 2020.

O processo rapidamente foi criticado dos procuradores-gerais do estados em causa, que o consideraram um “golpe publicitário” recheado de alegações “falsas e irresponsáveis”.

O New York Times noticiou no ano passado que muitos Republicanos que votaram para desacreditar os eleitores pró-Biden citaram um argumento elaborado por Johnson, que defendia que os ajustes no processo eleitoral causados pela pandemia em certos estados eram inconstitucionais. Estes esforços levaram a que Johnson fosse descrito como “o arquiteto mais importante das objeções ao Colégio Eleitoral”.

Apesar de Trump não ter apoiado oficialmente nenhum candidato para a Presidência da Câmara, o ex-Presidente já reagiu à escolha. “Acho que o Mike Johnson está a sair-se muito bem. Ele é um congressista tremendo, respeitado por todos. Nunca ouvi um comentário negativo sobre ele. Todos gostam dele“, afirmou Trump.

E Israel e a Ucrânia?

O impasse na Câmara dos Representantes não estava só a trazer problemas à política interna americana, já que estava a atrasar a aprovação de novos pacotes de apoio a Israel e à Ucrânia.

Poucas horas depois ter sido eleito, Johnson apresentou o seu primeiro projeto de lei: uma resolução a afirmar o apoio da Câmara dos Representantes a Israel e a condenação do Hamas.

A medida foi em grande parte simbólica e serviu como uma oportunidade para mostrar que o Washington estava a funcionar novamente depois de três semanas caóticas. A resolução não vinculativa foi aprovada com apoio bipartidário esmagador.

Agora, o novo Presidente terá de reafirmar o seu apoio com a aprovação de um pacote de ajuda financeira. Na semana passada, Biden pediu ao Congresso que aprovasse 105 mil milhões de dólares em financiamento de segurança adicional, que inclui 14,3 mil milhões de dólares em ajuda militar a Israel.

Mas o pacote solicitado inclui muito mais dinheiro – 60 mil milhões de dólares – para a Ucrânia. Isto promete ser um problema, já que há cada vez mais Republicanos, incluindo o próprio Johnson, que são contra o envio de mais dinheiro e armamento para a Ucrânia.

Johnson ainda não disse definitivamente como pretende responder ao pedido de Biden, ou qual a sua posição sobre a questão de mais ajuda à Ucrânia, agora que é o Presidente. Na sua primeira intervenção na Câmara, o novo Presidente focou-se mais em questões internas, como a dívida e a crise na fronteira com o México, onde manifestou apoio à continuação da construção da muralha.

O novo líder referiu-se à “turbulência e violência no Médio Oriente e na Europa Oriental”, mas não fez qualquer menção à Ucrânia, ao mesmo tempo que prometeu apresentar a resolução de apoio a Israel.

Adriana Peixoto, ZAP //

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