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“Apocalipse dos insetos”. Novos dados associam queda de população a barragens

A população de insetos está em declínio, naquilo a que chamam de “Apocalipse dos insetos”. Um novo estudo associa este problema às barragens.

Os insetos são o grupo de animais mais numeroso do planeta. Existem cerca de 5,5 milhões de espécies, 80% das quais ainda não foram descobertas. Ainda assim, os insetos estão a sofrer declínios acentuados e generalizados em todo o mundo: uma “morte por mil cortes” por causa da atividade humana.

Os insetos desempenham quase todas as funções imagináveis num ecossistema, incluindo a polinização de plantações, mantendo as pragas sob controlo e agindo como alimento para outros animais. As consequências potenciais do seu declínio são tão terríveis que há quem o apelide de “Apocalipse dos insetos”.

Apesar das regiões tropicais e subtropicais abrigarem cerca de 85% dos insetos da Terra, o que está a acontecer nessas regiões é muito pouco estudado.

Um novo estudo apresenta um dos conjuntos de dados mais abrangentes sobre insetos de água doce subtropicais, abrangendo 20 anos. O que os investigadores descobriram foram declínios generalizados no número de insetos em todos os grupos aquáticos examinados, incluindo mosquitos, efeméridas e libelinhas.

Os resultados do estudo foram publicados este mês na revista científica Biology Letters.

Declínios ocorreram em canais, lagos, rios e remansos num dos maiores sistemas de água doce da América do Sul, a planície de inundação do rio Paraná. Paralelamente, descobriu-se que o número de peixes invasores aumentou e a química da água tornou-se mais desequilibrada — alterações ambientais todas associadas à construção de barragens.

Há mais de 130 barragens ao longo do Paraná e seus afluentes. A mais significativa é Itaipu, a segunda maior hidroelétrica do mundo. Situado no Brasil e no Paraguai, o seu reservatório é tão grande que submergiu uma das maiores cascatas da Terra, as Cataratas do Guaíra, ao encher.

A remoção desta barreira geográfica natural entre o Baixo e o Alto Rio Paraná tem levado a invasões em massa de peixes: muitos deles predadores de insetos.

Ao mesmo tempo, as barragens bloqueiam o fluxo de sedimentos e nutrientes, desregulando a química da água e tornando-a mais transparente. A maioria dos insetos aquáticos é escura para se camuflar em águas turvas. O aumento da transparência da água enfraqueceu a sua capacidade de se esconder, tornando-os ainda mais vulneráveis a serem comidos pelos peixes invasores.

Cerca de 70% da eletricidade do Brasil vem de energia hidroelétrica, e barragens hidroelétricas serão essenciais para travar o recurso a combustíveis fósseis. No entanto, podem ter graves impactos ambientais e sociais.

O novo estudo mostra que as consequências negativas das barragens podem ocorrer muito depois de as florestas serem inundadas e as comunidades locais deslocadas.

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