Na ressaca do aperto de Biden contra as “armas fantasma”, os EUA foram palco de mais três tiroteios em massa

Yuri Gripas / EPA

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden

Joe Biden anunciou na semana passada mais restrições contra as “armas fantasma” que não têm números de série, mas as propostas estão longe de ser consensuais.

Dois adolescentes perderam a vida e oito outras pessoas ficaram feridas num tiroteio numa festa em Pittsburgh, na Pensilvânia, no último domingo. Este foi apenas um de pelo menos três tiroteios em massa que tiveram lugar nos Estados Unidos no fim de semana de Páscoa.

A polícia revelou que um equipamento que detecta tiroteios levou os agentes até à rua onde pelo menos 10 pessoas foram baleadas por volta das 12h30 no domingo. Foram disparados pelo menos 50 tiros por várias pessoas envolvidas numa disputa. Estavam cerca de 200 convidados na festa e a maioria eram menores.

Para além dos ferimentos causados pelas balas, outras pessoas sofreram cortes e ficaram com ossos partidos ao saltarem das janelas para tentarem fugir. A casa onde decorreu o tiroteio foi arrendada através da Airbnb, que já emitiu um comunicado onde revela que a pessoa que arrendou a casa foi banida para sempre para usar o serviço.

Os outros dois tiroteios aconteceram no estado da Carolina do Sul e causaram 18 feridos. Um decorreu numa discoteca em Hampton e causou nove feridos, não havendo registo de mortos. Na cidade de Columbia houve mais um tiroteio, num centro comercial, que também causou nove feridos entre 15 e 73 anos, tendo um homem de 22 anos sido preso sob uma fiança de 25 mil dólares.

“Um terrorista pode ter uma arma em 30 minutos”

Esta escalada de tiroteios surge poucos dias depois de Joe Biden ter anunciado uma medida destinada a combater a prevalência das “armas fantasma” nos Estados Unidos, após ter prometido na campanha eleitoral um combate à violência armada.

As “armas fantasma” são armas difíceis de rastrear por não terem números de série e por serem criadas a partir de kits, sendo cada vez mais utilizadas em tiroteios e podendo ser vendidas a qualquer pessoa sem uma verificação dos antecedentes.

O chefe de Estado norte-americano revelou que a nova regra vai facilitar a localização destas armas ilegais por parte das autoridades policiais, ao ilegalizar a produção destes kits sem números de série. Os vendedores de armas com licenças têm também de verificar os antecedentes dos clientes.

“Vamos fazer tudo o que podemos para privar os criminosos da escolha destas armas e quando os encontrarmos, vamos prendê-los durante muito, muito tempo. Se cometerem crimes com uma arma fantasma, esperem uma acusação federal”, garantiu Joe Biden.

O Presidente anunciou ainda a nomeação do advogado Steve Dettelbach para liderar o Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF).

Em 2021, a ATF recebeu denúncias de 20 mil suspeitas de armas fantasma que foram recuperadas pela forças policiais — um número 10 vezes maior do que o reportado em 2016. Mesmo assim, a autoridade conseguiu localizar menos de 1% das armas fantasma denunciadas pela polícia.

“Meus caros, um criminoso, um terrorista, um abusador, pode passar de um kit para uma arma em apenas 30 minutos“, reforçou Biden, que sublinhou que a lei não é “extrema”, mas sim “senso comum básico”.

Apesar dos apelos às maiores restrições à aquisição de armas de fogo nos Estados Unidos, onde a violência e os tiroteios são recorrentes, as propostas de Biden continuam a dividir opiniões e foram criticadas pelo lobby, que se refugia na Segunda Emenda da Constituição.

“Biden reforçou a sua tentativa de colocar um defensor do controlo de armas à frente da agência responsável pela regulação da indústria de armas de fogo na América”, condenou a Associação Nacional de Armas.

Já Jessica Anderson, directora executiva da organização conservadora Heritage Action, acredita que o “ataque” de Biden vai deixar as comunidades mais em risco.

“Uma proibição das armas caseiras vai permitir à AFT continuar a expandir a sua definição de uma arma de fogo e sujeitar muitos donos de armas que respeitam a lei a regulações mais pesadas e verificações de antecedentes duplicadas. Estes esforços não vão evitar que os criminosos quebrem a lei“, criticou.

Adriana Peixoto, ZAP //

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