O alinhamento de alguns templos megalíticos em Malta sugere que as famosas estruturas poderiam ter sido construídas para ajudar os viajantes a aprender a ler o céu noturno como se de um mapa se tratasse. A conclusão é de um estudo liderado por um arqueólogo português.
Um estudo publicado recentemente na Archaeological and Anthropological Sciences sugere que vários templos em Malta parecem ter sido orientados para estrelas ver específicas – o que sugere que poderão ter sido escolas de navegação celestial.
Entre 3.800 e 2.300 a.C., os povos antigos construíram sete templos no arquipélago maltês. Construídos a partir de grandes pedras cortadas, pesando várias toneladas, estes complexos contam-se entre as mais antigas estruturas megalíticas alguma vez construídas.
Muitos templos contêm abundantes restos mortais de animais e de seres humanos, o que sugere que os povos antigos os utilizavam para festas ou sacrifícios. Num desses locais foram descobertos mais de 220.000 ossos humanos.
Mas o que é mais curioso é que muitos desses templos partilham uma orientação semelhante: estão virados para sul ou sudeste.
Um desses templos é Mnajdra, que se alinha precisamente para se encher de luz durante os solstícios e equinócios.
O novo estudo foi liderado pelo português Fábio Silva da Universidade de Bournemouth, no Reino Unido.
Em declarações à New Scientist, Fábio Silva começa por explicar que “os templos podem ter sido orientados ao acaso ou de acordo com a inclinação do terreno; ou ainda para maximizar a luz do dia ou evitar ventos fortes”.
O estudo fez medições de 32 estruturas megalíticas nas ilhas de Malta e Gozo. Utilizou modelos estatísticos para testar várias hipóteses entre si, incluindo se os templos estavam orientados aleatoriamente, para evitar o vento, para se alinharem com as paisagens naturais ou para olharem para certas estrelas no céu noturno.
Surpreendentemente, descobriu-se “que nenhuma das explicações terrestres explica a orientação” – sustentou Fábio Silva.
“Em vez disso, muitos templos parecem capturar o nascer e o pôr do sol de estrelas austrais específicas – incluindo Hadar, que faz parte da constelação Centauro; Gacrux, que faz parte do Cruzeiro do Sul; e Avior, que faz parte do Falso Cruzeiro (…) Essas estrelas são notáveis por serem usadas para fins de navegação por várias culturas“,detalhou.
Afinal, aquelas estruturas poderiam ter sido construídas para ajudar os viajantes a aprender a ler o céu noturno como se de um mapa se tratasse.
“Os corredores sem teto [nos templos] proporcionavam o simulacro perfeito de estar em alto mar, mas ainda em segurança no interior. A entrada do templo enquadrava então uma parte específica do horizonte onde estas importantes estrelas de navegação nasciam ou se punham”, explicou o arqueólogo português.