A Boeing anunciou que o seu antigo presidente executivo Dennis Muilenburg, despedido a 23 de dezembro, não vai receber indemnização.
O antigo presidente executivo da Boeing, despedido em 23 de dezembro por uma gestão considerada catastrófica da crise do avião 737 MAX, não vai receber uma indemnização pela sua saída.
Dennis Muilenburg, que assumiu as suas funções em julho de 2015, também não receberá o bónus de desempenho correspondente ao ano de 2019, precisou o construtor aeronáutico num documento enviado à SEC, o supervisor norte-americano da Bolsa.
Ainda assim, irá manter prémios e ações que já haviam sido adquiridos, juntamente com a sua pensão e pagamento diferido – totalizando 80,7 milhões de dólares (72,6 milhões de euros), segundo cálculos da Bloomberg, citados pelo Fortune. Ainda assim, a perda de alguns prémios e da indemnização é um forte sinal de que o conselho de administração perdeu a confiança em Muilenburg.
Muilenburg foi substituído por David Calhoun, mas o modelo MAX permanece em terra desde meados de março de 2019, após dois acidentes que provocaram 346 mortos. Em simultâneo, a Administração Federal de Aviação (FAA), anunciou que vai multar a Boeing em 5,4 milhões de dólares (4,8 milhões de euros) por instalarem componentes inadequados nas asas de alguns dos seus 737 MAX.
Esta penalização segue-se ao anúncio da FAA em dezembro de que iria multar a Boeing em mais de 3,9 milhões de dólares (3,5 milhões de euros) por instalar as mesmas componentes em outras versões do 737.
Antes do anúncio destas decisões, a Boeing disponibilizou ao Congresso dos Estados Unidos mensagens de texto em que os seus funcionários descredibilizam o processo de certificação do modelo 737 MAX e denigrem o regulador de aviação norte-americano.
Nas mensagens, consultadas pela agência noticiosa AFP, os pilotos dão conta de falhas nos simuladores do aparelho, na origem de dois acidentes em 2018 e 2019. “Este avião é desenhado por palhaços, que por sua vez são supervisionados por macacos”, lê-se numa mensagem datada de 2017, numa aparente referência à FAA.
Noutra mensagem, um funcionário admite a um colega que não deixaria a família voar numa aeronave 737 Max. “Ainda não fui perdoado por Deus pelo que escondi no ano passado”, escreveu ainda outro funcionário, numa mensagem datada de 2018.
Estas mensagens, consultadas pela AFP, foram disponibilizadas por congressistas norte-americanos que estão a investigar o processo de certificação do 737 MAX, na origem de dois trágicos acidentes, na Indonésia (2018) e na Etiópia (2019), em menos de cinco meses, que provocaram 346 mortos e mergulharam a Boeing na mais grave crise da sua história.
“Algumas destas comunicações dizem respeito ao desenvolvimento e qualificação dos simuladores Boeing 737 MAX, em 2017 e 2018”, esclareceu a Boeing, acrescentando que disponibilizou as mensagens em nome da “transparência”.
A Boeing corre agora o risco de ver pioradas as já tensas relações com a FAA. “Estas comunicações não refletem a empresa que somos e que precisamos de ser, e são completamente inaceitáveis”, disse a Boeing em comunicado.
ZAP // Lusa