Vários animais marinhos apareceram mortos numa praia de Kamchatka, na Rússia, na semana passada. Habitantes locais alegaram que a cor da água mudou e a causa do desastre poderá estar relacionada com um derrame de petróleo.
Anna Strelchenko, cidadã russa, encontrou na semana passada vários animais marinhos mortos na praia e gravou um vídeo para as suas redes sociais, onde mostra um pedaço de areia coberto de peixes, estrelas do mar, ouriços-do-mar e polvos mortos.
“Nunca esperei que o meu vídeo recebesse tanta atenção – pensava que isto fosse apenas o resultado de uma tempestade muito forte”, disse Strelchenko ao The Washington Post. “Mas senti-me muito mal ao ver todos aqueles polvos mortos na praia. Não eram só um ou dois, deviam ser uns vinte”, acrescentou.
Quatro meses depois de um reservatório em Norilsk, no norte da Rússia, ter entrado em colapso e libertado 20 mil toneladas de diesel no meio ambiente, acredita-se que outro derrame de petróleo seja o responsável pelo incidente em Kamchatka.
No sábado, o Ministério de Recursos Naturais e Ecologia de Kamchatka partilhou um vídeo da praia de Khalaktyrsky com a seguinte legenda: “A cor da água é normal, o cheiro do ar é normal, a praia está completamente limpa… Nada anómalo foi registado.”
E a reação nas redes sociais não tardou. Anton Morozov, um surfista e blogger russo, respondeu com um post no Instagram, onde partilhou vídeos que mostravam as diferentes tonalidades na água do mar e animais marinhos mortos.
Além disso, Morozov contou que vários surfistas da região começaram a ter “sintomas estranhos e desagradáveis depois de surfar”, como visão turva, olhos secos e dor de garganta. “O oceano está em perigo, e todos nós também. Não sabemos de onde veio o veneno nem quem provocou a situação, mas uma coisa é certa – não se pode surfar”, disse.
“A água não cheira a oceano, está viscosa, amarga, suja, e os peixes estão mortos na praia, nem as focas se comportam naturalmente. Ficam muito tempo à superfície, sem nos prestarem atenção e sem mergulhar na água. É um desastre”, acrescentou o surfista.
A praia de Khalaktyrsky – que é popular entre praticantes de surf e fica a cerca de 32 quilómetros do local onde Strelchenko filmou o primeiro vídeo – tem sido alvo de variadas queixas dos surfistas locais.
Katya Dyba, que trabalha na Snowave Surf School, disse que ficou com a visão turva, dores de garganta, náuseas e fadiga depois de ir surfar, no dia 14 de setembro, e que outros surfistas foram posteriormente diagnosticados com envenenamento.
A Greenpeace confirmou que os testes feitos nas amostras de água daquela praia mostraram níveis de petróleo quatro vezes mais altos do que o normal e níveis de fenol 2,5 vezes mais altos.
“Havia uma película amarela esverdeada sobre a água”, disse Dyba. “Agora, a situação parece melhor na praia de Khalaktyrsky, mas sabemos que a contaminação se moveu para o sul porque as pessoas de lá estão a encontrar os mesmos sinais – animais mortos.”
No domingo, o tom do governo local mudou. O governador de Kamchatka, Vladimir Solodov, disse que foram enviadas amostras de água para Moscovo e que essas serão analisadas. Solodov prometeu ainda despedir qualquer pessoa que tenha tentado deliberadamente encobrir a crise.
“Soubemos desta situação ambiental através de bloggers“, disse Solodov. “Vou dirigir-me às autoridades federais com a proposta de estabelecer um sistema unificado de controlo dos fatores nocivos ao meio ambiente.”
“Devemos vigiar constantemente a condição do nosso principal tesouro, o oceano, e tomar as medidas adequadas. A situação de hoje prova que este trabalho de controlo deve ser intensificado – como está agora, não é suficiente”, acrescentou.
“Uma pessoa sente-se impotente”, disse Cristina Rozenberg, que trabalha para uma empresa de turismo em Kamchatka. “É uma verdadeira tragédia, não sabemos como podemos ajudar. Todos nós vivemos deste oceano, comemos coisas deste oceano e os nossos filhos brincam neste oceano.”
“Honestamente, não sei quem é o responsável e também não tenho a certeza de que as autoridades locais saibam o que fazer”, concluiu Rozenberg.