Nenhum grande incêndio dizimou uma espécie; instinto de sobrevivência de muitos animais é superior ao instinto humano.
A ideia não é nova, mas tem sido reforçada por razões óbvias, nos últimos dias: o instinto de sobrevivência de animais durante um incêndio.
Vários bombeiros portugueses têm espalhado a mensagem: não prenda o animal, não lhe trave o percurso.
Claro que não se aplica a todos os casos, mas muitos animais têm um instinto em relação à fuga superior ao instinto humano. Eles sabem para onde devem ir, o que precisam de fazer.
O professor Chris Wilmers resumiu, sobre animais selvagens: “O fogo é um processo natural ao qual esses animais estão bem adaptados”.
Estas declarações ao Open Space Trust surgiram durante o período de incêndios mais problemático de sempre na Califórnia, EUA.
Nessa altura, foram acompanhados movimentos dos animais e verificou-se que leões da montanha, em território queimado, sobreviveram aos incêndios.
Wes Gray, gerente de recursos naturais nos parques federais da Califórnia, acrescentou: “Todos os animais que podem sair do caminho – leões da montanha, linces, coiotes, veados e pássaros – simplesmente fogem do fogo. Simples”.
E os que não podem ou não conseguem correr? “Escondem-se. Principalmente enterrados no subsolo”.
Isto não quer dizer que todos os animais fugiram, sobreviveram; mas quem tinha forma de fugir, fugiu mesmo.
A fuga torna-se mais complicada para animais terrestres mais pequenos. Se o solo ficou mesmo muito quente, escavar – ou tentar escavar – não terá evitado a morte.
A revista National Geographic reforça a ideia: para espécies silvestres que evoluíram para conviverem com o fogo, o cenário de incêndio não é muito dramático.
“A vida selvagem tem um longo relacionamento com os incêndios, Incêndios são uma parte natural deste cenário”, comenta o ecologista de ecossistemas Mazeika Sullivan.
Muitos animais tem a capacidade inata de fugir do calor: pássaros voam, anfíbios e outros pequenos animais enterram-se no solo, escondem-se em troncos ou protegem-se sob pedras. E outros animais, incluindo espécies grandes como o alce, refugiam-se em riachos e lagos.
Um bombeiro australiano, Gabriel d’Eustachio, contou que foi ultrapassado por um movimento em massa de pequenos invertebrados, que fugiam do fogo.
Além disso, há animais predadores que até aproveitam fugas a incêndios para atacar.
Os investigadores não têm uma noção exacta de quantos animais morrem em incêndios florestais, por ano.
Mas, até agora, nenhum incêndio dizimou toda uma população ou espécie.
Em zonas com muito fumo mas que não obrigam a fuga, Jorge Cid, bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, aconselhou no PetFeelings a colocar os animais dentro de casa e fechar as janelas. Deve-se colocar toalhas molhadas com água fria sobre o corpo e cabeça do animal.
Se o animal sofrer uma queimadura: molhar com água não muito fria; nunca usar gelo, cremes, produtos abrasivos, água oxigenada ou soluções desinfectantes; deixar os animais ao ar livre.
Nos últimos dias, a associação IRA – Intervenção e Resgate Animal tem desempenhado um papel crucial na protecção e salvamento de animais em risco. E conta com a colaboração da população, salienta o Pets And Company.
E uma mensagem básica, mas que não é demais repetir: deixar os animais fugir à vontade não é sinónimo de abandono.