Anfíbios venenosos são mestres a criar toxinas. Que nos podem ensinar antes que se extingam?

Brian Gratwicke / Wikipedia

Phyllobates terribilis, a rã-flecha-dourada

Cientistas de todo o mundo estão cada vez mais interessados no estudo de anfíbios venenosos, uma vez que compreender as defesas tóxicas destas criaturas pode levar ao desenvolvimento de novos medicamentos e estratégias de controle de pragas.

Entre as mais de 8.000 espécies de anfíbios conhecidas, pelo menos 2.500 têm toxinas. Estas espécies tóxicas, que incluem sapos, rãs, tritões e salamandras, produzem uma série de substâncias químicas para afastar predadores.

Um dos exemplos mais famosos de anfíbios venenosos é a rã-flecha-dourada, nativa da Colômbia, cujo veneno era usado por povos indígenas que com ele untavam as suas zarabatanas para caçar.

A toxina desta rã, chamada batracotoxina, é suficientemente poderosa para paralisar ou matar um predador em poucos minutos — e a sua dieta, composta por formigas e besouros específicos, é a chave para a produção da sua toxina.

Os anfíbios venenosos desenvolveram as suas defesas tóxicas através de um processo chamado co-evolução, no qual predador e presa se adaptam em resposta às características um do outro.

Com o tempo, esta interdependência evolutiva resultou no desenvolvimento de toxinas cada vez mais potentes, explica a Knowable Magazine num artigo recentemente publicado sobre os mistérios dos anfíbios venenosos.

Embora estas adaptações evolutivas proporcionem proteção aos anfíbios, também criam uma corrida armamentista: em resposta, os predadores evoluem e criam as suas próprias contra-medidas, cada vez mais eficazes.

Um exemplo destas contra-medida é a resistência a uma classe de toxinas chamadas tetrodotoxinas (TTX).

Animais resistentes à TTX, como a cobra-liga, desenvolveram mutações que impedem a toxina de se ligar e causar paralisia — uma adaptação permite que a cobra se alimente de tritões tóxicos sem sofrer danos.

Estudar as complexas interações entre anfíbios venenosos e seus predadores pode revelar possíveis aplicações na medicina e na agricultura. Por exemplo, cientistas descobriram um composto chamado epibatidina na pele de uma rã venenosa do Equador, que se mostrou um potente analgésico.

Além disso, as toxinas produzidas pelos anfíbios podem ajudar os cientistas a desenvolver métodos de controle de pragas ecologicamente corretos. Ao identificar e isolar compostos específicos que repelem predadores, os investigadores podem projetar biopesticidas que atacam insetos nocivos, poupando os benéficos.

Muitas destas espécies tóxicas estão ameaçadas de extinção, principalmente pela perda dos seus habitats e pelo impacto das alterações climáticas na biodiversidade.

Para preservar este conhecimento inestimável, alguns cientistas estão a criar programas de reprodução em cativeiro para anfíbios ameaçados de extinção — que além de apoiar os esforços de conservação, também fornecem um ambiente controlado para estudar estes animais e suas toxinas.

Mas os investigadores estão a correr contra o tempo para aprender com estas criaturas — antes que desapareçam.

ZAP //

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