Anne Frank tentou esconder duas páginas do seu diário, que continham piadas “picantes” de “referência sexual”, ao colocar papel castanho sobre as páginas do seu caderno vermelho e branco.
Especialistas revelaram o texto escondido com a utilização de novas tecnologias, anunciaram a Casa de Anne Frank e duas outras instituições culturais holandesas na terça-feira, de acordo com o New York Times.
A adolescente judia, que viveu dois anos escondida dos nazis num anexo durante a II Guerra Mundial, terá camuflado as duas páginas por conterem conteúdo lascivo que a adolescente não quereria que o pai descobrisse.
“Às vezes imagino que alguém poderia vir até mim e pedir-me que o ensinasse sobre matérias sexuais”, escreveu Frank. “Como é que eu o faria?”. A adolescente tenta depois dar uma resposta à pergunta colocada, dirigindo-se a um ouvinte imaginário num tom sublime, usando frases como “movimentos ritmados” para descrever sexo, e “medicamentos internos” para se referir à contraceção.
Anne Frank aborda também a menstruação, que considera um sinal de que “está madura”, e a prostituição: “Em Paris, eles têm grandes casas para isso”.
Peter de Bruijn, um dos investigadores que fez a descoberta, diz que as páginas não são importantes pelo seu conteúdo sexual, uma vez que a adolescente explora matérias semelhantes noutras parte do diário, por vezes até com termos mais explícitos. Por outro lado, esta é uma descoberta importante porque mostra a primeira tentativa de Frank de escrever num tom mais literário.
“Ela começa com uma pessoa imaginária com quem fala sobre sexo, por isso, a adolescente está a criar um ambiente literário para escrever sobre um tema com o qual ela não estará muito à vontade”, disse o investigador.
Ronald Leopold, o diretor da Casa de Anne Frank, diz que esta é uma descoberta “muito interessante que acrescenta significado ao diário”.
Às páginas onde a adolescente escreveu sobre educação sexual, Anne Frank acrescentou-lhe ainda as quatro piadas picantes que conhecia. “Sabem porque é que as meninas das Forças Armadas Nazis estão na Holanda? Para servirem de colchões aos soldados”, era uma delas.
As entradas do diário foram escritas a 28 de setembro de 1942, pouco tempo depois de Anne se ter escondido com a família. “Vou usar esta página estragada para escrever anedotas picantes“, escreveu, então com 13 anos, na página que contém ainda algumas frases riscadas.
Sobre a decisão de publicar páginas que a adolescente judia claramente quezapria manter escondidas, a Casa de Anne Frank, em Amesterdão, disse que o seu diário, classificado pela UNESCO como património da humanidade, tem um significativo interesse académico.
É preciso rever o que se escreve.