Como é que os humanos aprenderam a andar sobre duas pernas? A resposta pode estar nos nossos ouvidos

Xiaocong Guo

Reconstrução do comportamento locomotor de Lufengpithecus

Digitalizações em 3D de ossos de macacos antigos revelaram novos detalhes sobre a evolução do bipedalismo.

O bipedismo que caracteriza os seres humanos é único entre os primatas vivos e extremamente raro no reino animal. E, embora a transição de subir em árvores para andar ereto tenha sido um enorme marco evolutivo na nossa linhagem, os cientistas ainda não têm a certeza exata de como aconteceu.

Ao comprar os ossos dos membros, ombros, pélvis e coluna vertebral dos nossos primeiros antepassados, é possível determinar quando ocorreram os principais saltos evolutivos. No entanto, há outro conjunto de ossos que nada tem a ver com os membros, mas que é fundamental para caminhar: os ossos do ouvido interno.

Entre o cérebro e os ouvidos externos, encontram-se os canais semicirculares, estruturas fundamentais para o nosso equilíbrio e para a compreensão da nossa posição à medida que nos movemos.

Recentemente, investigadores da Universidade de York e da Academia Chinesa de Ciências usaram tomografia computadorizada 3D avançada para analisar o ouvido interno ósseo do macaco fóssil Lufengpithecus.

Através da sua medicação exata, foi possível saber que tipo de postura corporal os nossos ancestrais usavam para se movimentar.

(dr) Yinan Zhang, Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados, Academia Chinesa de Ciências

Três visões diferentes do ouvido interno reconstruído de Lufengpithecus.

Ao contrário dos macacos africanos, conhecidos como o Australopithecus, o Lufengpithecus é um género de macacos extinto, da época do Mioceno, que desempenha um papel crucial no preenchimento de lacunas na nossa linha do tempo evolutiva.

Ao comparar os exames dos canais semicirculares desta espécie com os de outros macacos vivos, fósseis e seres humanos, os cientistas delinearam uma  “evolução em três etapas” do bipedalismo humano.

Segundo o ZME Science, tudo começa com os primeiros macacos que se moviam em árvores até chegarmos ao nosso último ancestral comum com os macacos, semelhante ao Lufengpithecus, que usava uma mistura de escalada e andar sobre duas pernas nas árvores, além de andar de quatro no chão. A última etapa é o bipedalismo, que evoluiu a partir desta herança ancestral.

Ao longo de anos de investigação, os cientistas concentraram-se nos ossos dos membros, ombros, pélvis e coluna vertebral para compreender a locomoção, mas foi quando analisaram o ouvido interno que chegaram a novas conclusões.

“O ouvido interno fornece um registo único da história evolutiva da locomoção dos macacos, oferecendo uma alternativa inestimável ao estudo do esqueleto pós-craniano”, referiu Xijun Ni, autor principal do estudo, apresentado num artigo publicado esta semana na The Innovation.

A mesma investigação sugere ainda que as alterações climáticas desempenharam um papel significativo na evolução do movimento dos macacos.

“As temperaturas globais mais frias, associadas à acumulação de mantos de gelo glaciais no hemisfério norte há aproximadamente 3,2 milhões de anos, correspondem a um aumento na taxa de mudança do labirinto ósseo e isto pode sinalizar um rápido aumento no ritmo dos macacos e na evolução locomotora humana”, explicou Terry Harrison, antropólogo da Universidade de Nova York e coautor do artigo.

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