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Ana Gomes teme que processos BES e Operação Marquês acabem como o dos submarinos

Tiago Petinga / Lusa

A candidata às eleições presidenciais, Ana Gomes

A candidata presidencial Ana Gomes disse ontem temer que processos como os do BES e da Operação Marquês terminem como o dos submarinos, em que considerou que se “trabalhou para a prescrição”.

Na conversa online que promove diariamente nas suas redes sociais, hoje sobre Justiça, a candidata considerou que “o sistema dos mega processos serve uma verdadeira estratégia de trabalhar para a prescrição dos crimes e frustrar a administração da justiça”.

“O caso mais emblemático é o caso dos submarinos, que também já era corrupção BES, como se veio a provar (…) na Alemanha fez-se justiça e identificaram-se os corruptores que foram condenados e, até hoje, em Portugal não se sabe quem foram os corrompidos”, criticou.

Para a candidata, este foi “um caso clamoroso em que se trabalhou para a prescrição para não se apurarem responsabilidades”.

“E eu temo que seja esse mesmo mecanismo que está em curso no caso desses megaprocessos mais significativos, BES e Operação Marquês, em que aparentemente, segundo a própria justiça, há ligações obvias”, alertou.

A candidata presidencial teve hoje entre os convidados o ex-ministro da Justiça e seu apoiante declarado Vera Jardim, que centrou a sua intervenção de quase meia hora no combate à corrupção, elogiando Ana Gomes por introduzir frequentemente este tema nas suas intervenções públicas.

“Tenho ouvido com atenção os vários debates nas presidenciais, queria cumprimentar a Ana pelas intervenções que pude ouvir”, afirmou, admitindo que, entre os sete concorrentes a Belém, “todos querem uma justiça melhor”.

O antigo ministro da Justiça de António Guterres procurou explicar a dificuldade de fazer reformas neste setor pelos interesses contrários dos vários intervenientes e anteviu que o futuro será ainda mais difícil.

“O trabalho da luta contra a corrupção nunca está acabado e nós iremos sempre atrás dos corruptos, é muito difícil irmos à frente”, alertou, considerando que a globalização “alterou completamente” este combate.

Vera Jardim apontou que a justiça está hoje confrontada “com a pressão mediática”.

“É boa por um lado, mas por vezes poderá implicar que a justiça se faça com um impulso grande da opinião publica muito influenciada pela imprensa, sobretudo por certos meios”, alertou.

O antigo governante aludiu a que muitos se referem aos “atrasos num processo que implica um antigo primeiro-ministro”, referindo-se a José Sócrates e à Operação Marquês, mas questionou “quantos anos vai gastar a França para julgar o antigo Presidente da República Sarkozy”.

“Porque é que estes processos levam tanto tempo, estas explicações são muitas (…) mas de há 25 anos a esta parte estamos confrontados com a enorme desconfiança do público em relação à justiça”, lamentou.

Também Ana Gomes apontou “a grande corrupção” como “um fator de desconfiança dos cidadãos nas instituições políticas e no próprio Estado”, numa sessão que se estendeu hoje por quase hora e meia.

Devido à pandemia de covid-19, Ana Gomes substituiu os tradicionais comícios ou sessões de esclarecimento com eleitores por conversas online, transmitidas diariamente em direto nas redes sociais da candidata pelas 18:00, com figuras políticas e especialistas nas áreas dos vários compromissos, uma iniciativa intitulada “Portugal é consigo, Portugal é connosco”.

Hoje, o ciclo será dedicado ao tema “Portugal, país de arte e cultura, conhecimento e aprendizagem” que contará, entre outros convidados, com a participação do secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa.

A candidata tem ainda prevista à noite – e depois de quatro ações de rua durante o dia – outra conversa nas plataformas digitais com jovens socialistas sobre o papel da Presidente da República.

ZAP // Lusa

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