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“Por uma boa causa”, Amnistia usou imagens falsas geradas por IA (e a polémica estalou)

Amnistia Internacional

No passado fim de semana, a Amnistia Internacional foi duramente criticada após publicar imagens geradas por Inteligência Artificial referentes aos protestos da Greve Nacional Colombiana de 2021. Imagens foram entretanto, removidas pela organização.

A polémica instalou-se no passado fim de semana, quando a conta regional norueguesa da Amnistia Internacional publicou, na rede social Twitter, três imagens referentes à Greve Nacional Colombiana de 2021, numa tentativa de assinalar o segundo aniversário dos protestos, marcados pela brutalidade policial e abuso dos direitos humanos.

As imagens eram, no entanto, falsas, tendo sido geradas por inteligência artificial. Numa das imagens publicadas vê-se uma mulher a ser arrastada pela polícia usando orgulhosamente a bandeira da Colômbia – que se encontrava com as cores trocadas.

Outras críticas surgiram devido à possibilidade de estas imagens ferirem a credibilidade dos grupos e protestantes já identificados por governos autoritários, que por sua vez lançam dúvidas sobre a autenticidade das imagens reais do protesto.

As imagens – que foram identificadas pela Amnistia no canto inferior esquerdo como sendo “ilustrações geradas por inteligência artificial” – foram, entretanto, removidas pela organização, que afirma, ao Gizmodo, ter optado pelo uso das imagens artificiais para proteger a privacidade dos protestantes mais vulneráveis.

“A Amnistia removeu as imagens das publicações porque não quer que as críticas pelo uso das mesmas desvie as atenções da mensagem fulcral de apoio às vítimas e das suas reivindicações de justiça na Colômbia”, afirma a diretora da Amnistia no continente americano, Erika Guevara Rosas.

“Muitas pessoas que participaram na Greve Nacional cobriram a cara porque tinham medo de serem sujeitas a repressão e estigmatismo por parte das forças de segurança do estado”, afirma um porta-voz da Amnistia via e-mail.

“Aqueles que mostraram as suas caras ainda correm riscos e outros estão a ser criminalizados pelas autoridades colombianas”, reforça o porta-voz, sublinhando que “a Amnistia Internacional acredita que colocaria os participantes dos protestos em risco se tivesse usado as suas verdadeiras caras”.

Outra justificação da organização para o uso de imagens geradas por inteligência artificial foi o facto de alguns dos abusos relatados terem tido lugar na escuridão – após as autoridades colombianas cortarem o acesso a eletricidade – tornando necessária a geração de novas imagens.

A proliferação de imagens falsas criadas por Inteligência Artificial tem aberto caminho a preocupações que se prendem, por exemplo, com a desacreditação da autenticidade e com o aumento da desconfiança.

As imagens geradas por IA baseiam-se em fotografias previamente capturadas por humanos, o que, segundo o The Guardian, levanta questões de plágio no fotojornalismo. Fotojornalistas avisam que o uso de imagens geradas artificialmente pode afetar a própria credibilidade da Amnistia.

“Vivemos numa era muito polarizada e recheada de fake news, o que leva com que as pessoas questionem a credibilidade dos media. Como sabemos, a inteligência artificial mente. Que tipo de credibilidade tens se começas a publicar imagens criadas por inteligência artificial?”, confessa, ao The Guardian, a fotojornalista colombiana, Juancho Torres, que considera que o uso de imagens geradas artificialmente pela Amnistia foram um “insulto” aos fotojornalistas que fazem a cobertura de protestos na linha da frente.

Tomás Guimarães, ZAP //

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