Ambiente quente no Parlamento: “Bandos raivosos” vs. “insulto a Sá Carneiro”

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José Sena Goulão / Lusa

Discussão à volta do 25 de Novembro foi acesa. Até que alguém apelou: “Deixem-se de provocações e vamos ao trabalho”.

A Assembleia da República foi, nesta terça-feira, o palco de votações à volta da operação militar de 25 de Novembro de 1975.

O CDS conseguiu que essa data seja assinalada anualmente no Parlamento, a IL viu aprovada uma sessão solene nos 50 anos da operação, enquanto o Chega não conseguiu que o 25 de Novembro passasse a ser feriado nacional.

Além das votações, houve debate. Um debate longo, que durou mais de duas horas, que desde cedo se verificou que ia ser “quente”.

Marcos Perestrello (PS) ficou irritado com Pedro Pinto, quando o segundo disse que as instalações do Chega estavam a ser atacadas. Como Marcos não se calava, o deputado do Chega calou-se durante uns segundos e criticou o deputado do PS: “Como vice-presidente da mesa da Assembleia da República, deveria dar o exemplo!” – não se percebe o que o deputado do PS dizia, de microfone desligado.

Pouco depois, e após uma intervenção de Rui Tavares (Livre), Filipe Melo começou a protestar, a gritar, algo que originou mesmo intervenção da mesa. Mais uma vez, não se percebe o que os dois estavam a dizer – Rui Tavares também ia gritando para o outro lado do hemiciclo.

“Raivosos” e a pátria

Ainda no Chega, o deputado Jorge Galveias soltou frases fortes. Disse que, durante o PREC – Processo Revolucionário em Curso, houve “saneamentos, saques das propriedades por bandos raivosos, ladrões da extrema-esquerda”. Acrescentando que os mesmos foram responsáveis por “prisões, torturas, listas de nomes a serem eliminados, um a um”.

Vanessa Barata prolongou as críticas do colega de bancada parlamentar: “Organizações terroristas armadas que pilharam, destruíram, sequestraram e mataram. O processo de descolonização da época envergonha-nos a todos até hoje”, atirou a deputada do Chega, que acha que o 25 de Novembro foi um “triunfo da ordem e da paz sobre a anarquia e a libertinagem”, finalizando com a frase: “A pátria é um dever entre o berço e o caixão” – dizendo isto com a mão no peito, recebendo logo a seguir uma das maiores ovações da tarde e cumprimentos especiais de Pedro Pinto e Rita Matias.

“É isso o comunismo!”

No outro lado, António Filipe (PCP) avisou que o CDS tenta desvalorizar o 25 de Abril e enumerou “assaltos e pilhagens” a centros de trabalho do PCP, de “organizações terroristas de extrema-direita e aí sim, assassinatos” – curiosamente Diogo Pacheco de Amorim não estava na sala neste momento.

Na resposta, Pedro Pinto, do Chega, perguntou ao comunista: “Onde estaria Portugal sem o 25 de Novembro? Como Cuba, com pessoas à fome a pedir esmola pela rua? Como Venezuela, com pessoas a matarem-se uns aos outros para terem um pacote de leite? Ou então como na Coreia do Norte, que ninguém sabe como é que está, porque o regime não deixa saírem notícias nenhumas cá para fora? É isso o comunismo!“. António Filipe avisou Pedro Pinto: “O PCP não fez nada do que você disse”.

Do PSD, Bruno Vitorino insistiu nas críticas a António Filipe, que “reescreveu a história”, mas atirou: “Que bom” poder ter estas divergências, salientando que a “liberdade e a democracia não caíram do céu e não são dados garantidos”. Logo a seguir, voltou a olhar para a bancada parlamentar do PCP: “O 25 de Abril não tem donos, apesar das tentativas de alguns… Repito, senhor deputado António Filipe, senhores deputados do PCP: o 25 de Abril não tem donos”.

Depois, referências a grandes figuras da política portuguesa de outros tempos. Francisco Assis ouviu Bruno Vitorino e disse que as suas palavras tinham sido um “autêntico insulto à memória de Francisco Sá Carneiro“. Filipe Melo (Chega) perguntou se Mário Soares “não teria vergonha” do actual PS, que foi apoiado pela extrema-esquerda num Governo de António Costa.

Francisco Assis, o destaque

Francisco Assis terá feito a sua última intervenção como deputado na Assembleia da República. Está a caminho do Parlamento Europeu e, numa intervenção mais longa do que o habitual, saudou o CDS pela iniciativa, destacou que Mário Soares foi uma figura do 25 de Novembro e o PS “é e sempre será partido de Mário Soares”. Mas também foi interrompido pelo deputado do CDS, João Almeida, que estava aparentemente a acusar a bancada do PS de ter “ouvido selectivo” – e nova intervenção da mesa, desta vez já com Aguiar-Branco na presidência.

Francisco Assis acabou mesmo por ser um destaque do plenário. Foi aplaudindo discursos da direita e, quando terminou o seu maior discurso, foi aplaudido de pé pelo PS e por… Hugo Soares. O líder parlamentar do PSD falou logo a seguir: “Foi uma lição ao PS, que incómodo notei nas reacções de Pedro Nuno Santos. Que falta vai fazer ao PS a sua capacidade, a sua moderação e o seu bom-senso. Tinha dúvidas se estava a ouvir um socialista-democrata ou um socialista” – aqui, Rui Rocha (IL) disse “o Chega está com ciúmes”.

Assis ouviu ainda, e agradeceu, um cumprimento especial de Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República. Os dois conhecem-se há muito tempo, como salientou o próprio.

Em intervenções mais moderadas ou criativas, destacaram-se duas. Rui Rocha afirmou: “O 25 de Abril só é uma data divisiva para quem não ama a liberdade. O 25 de Novembro só é uma data divisiva para quem não ama a democracia”.

Pedro Delgado Alves, do PS, enquanto sublinhava que não estava em questão colocar o 25 de Abril contra o 25 de Novembro, tentou acalmar a situação: “Deixem-se de provocações e vamos ao trabalho, olhando para o futuro”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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4 Comments

  1. Toda a gente que viveu esse tempo sabe que os comunas destruíram tudo. Roubaram as herdades com a reforma agrárias, destruíram as grandes empresas, como a CUF, a Lisnave, a Sorefame, a Companhia Colonial de Navegação e etc, etc, etc. Agora mentem, destorcem a realidade que se passou e chama aos outros aquilo que eles são.

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  2. O 25 de Abril não restaurou nem a democracia nem a liberdade. Pôs um fim à guerra no Ultramar mas, da forma como o fez, causou mais mortes em Angola, Moçambique e Guiné do que 13 anos de guerra. Só o 25 de Novembro permitiu que vivamos em democracia e em liberdade. É bom que o celebremos.

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  3. Nuno Cardoso então o 25 de abril não retaurou a Democracia e a Liberdade, então restaurou o quê? por acaso esteve na guerra do ultramar? não diga palermices e passe bem que é mal que lhe desejo,ainda hoje existem pessoas na minha terra que nunca viram os Pais,e Pais que morreram antes de conhecerem o filho,mas a miha terra não é unica existem muitas por este País fora.

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  4. AJOC, por acaso estive na guerra, em Angola, e por isso sei muito bem do que falo. Os militares que fizeram o 25 de Abril só estavam interessados na guerra. Formados na Academia Militar do Estado Novo, os pobres não faziam a menor ideia do que eram a liberdade e a democracia, e por isso não as podiam restaurar. Mas sabiam o que era a guerra e queriam acabar com ela, para poderem voltar à santa vida dos quarteis na Metrópole. Mas com isso abriram a porta a toda a espécie de excessos que só em 25 de Novembro acabaram. Se as pessoas pensassem um bocadinho sabiam que as coisas tinham sido assim. Mas pensar dá muito trabalho…

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