Primeira missão de simulação de ambiente lunar realizada em Portugal arranca na próxima quarta-feira. Missão pretende comprovar se é possível viver dentro de uma estrutura com características que se assemelham a um ambiente lunar.
Sete investigadores nacionais e estrangeiros vão “viajar” até à Lua sem sair da Terra, na primeira missão de simulação de ambiente lunar realizada em Portugal, que arranca na quarta-feira, na Gruta do Natal, na ilha Terceira, nos Açores.
“É uma equipa incrível e foi uma viagem fantástica para conseguirmos ‘voar até à Lua, alunarmos’ e finalmente estarmos aqui durante uma semana. E vamos lá ver se chegamos todos em segurança à Terra”, avança, em declarações à Lusa e à Antena 1, a comandante da missão Camões e investigadora do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores Tecnologia e Ciência – INESC TEC, Ana Pires.
É enquanto alguns turistas descobrem a gruta, que passa por baixo da Lagoa do Negro, no interior da ilha Terceira, que Ana Pires explica como será criado um ambiente lunar para acolher a missão, que vai decorrer entre 22 e 28 de novembro.
A temperatura está a 17 graus, do teto caem pingos de água, que se acumulam em poças no chão formado pela lava. Em breve, a gruta será encerrada ao público e as luzes serão desligadas.
Dois geocientistas, um geofísico, uma astrobióloga, um explorador, uma especialista em fatores humanos e clima e um psicólogo vão dividir-se por três estações, onde serão montadas tendas.
Durante sete dias estarão isolados na gruta e só subirão à receção para refeições, higiene e um acesso breve à internet.
Com a colaboração de outros 10 investigadores, vão realizar 14 experiências, com recurso a drones, sensores e outras tecnologias, na esperança de recolher dados que possam partilhar com a comunidade científica internacional.
“Vamos passar aqui 24 horas por dia. Portanto, vamos ter imenso tempo para descobrirmos muitas coisas. Estamos ansiosos por perceber que histórias é que esta gruta tem para nos contar”, adianta a comandante da missão.
Mais do que estudar a gruta, a missão pretende comprovar se é possível viver dentro de uma estrutura com características que se assemelham a um ambiente lunar.
“Vamos, no fundo, tentar perceber se de facto um verdadeiro astronauta conseguiria viver neste tipo de ambiente e qual é o resultado final que poderá servir para dar pistas um dia para as verdadeiras missões. O que é que uma estrutura geológica deste tipo precisa para que um astronauta consiga viver aqui”, explica Ana Pires.
Os geocientistas, por exemplo, vão tentar descobrir o que poderá estar por detrás das paredes da gruta, recorrendo à tecnologia ótica de deteção remota Lidar enquanto a astrobióloga vai recolher amostras de organismos vivos.
Yvette González, diretora executiva da missão e investigadora Universidade de Plymouth, nos Estados Unidos, vai estudar os fatores humanos e a empatia ambiental.
“Enquanto humanos, acreditamos que vivemos em reciprocidade com a Terra? E o que é que isso quer dizer para viver na Lua ou em outro planeta? Será que olhamos à volta e ainda nos sentimos ligados a este tipo de natureza? Lá fora olhamos para uma árvore, para um pássaro, mas aqui será que olhamos para a gruta e nos sentimos ligados para a protegermos, para viver aqui a longo prazo?”, questiona.
Uma das vertentes que a investigadora vai estudar é até que ponto a sensação de tomar um duche pode manter o “astronauta” mais confortável e contribuir para a sua saúde mental.
Yvette encontrou na Internet um equipamento inovador, desenvolvido na Austrália, que permite tomar duche sem eletricidade. Um dos criadores era português e ao descobrir que a missão seria nos Açores ofereceu os chuveiros portáveis.
A equipa levará também para a Gruta do Natal um equipamento desenvolvido no Japão, utilizado por astronautas, para fazer exercício físico num espaço confinado.
Os fatos que serão utilizados, uma mistura entre um fato de espeleologia e um fato de voo, foram criados especialmente para a missão pela empresa da engenheira aeroespacial norte-americana Sabrina Thompson. Por baixo, vão usar roupa interior e t-shirts, com têxteis inteligentes, desenvolvidos pela investigadora portuguesa Filipa Fernandes.
// Lusa