Descoberto âmbar na Antártida: a chave para os segredos das suas florestas cretáceas

Alfred Wegener Institute / V. Schumacher

Minúsculo pedaço de âmbar, encontrado preso em lenhite, ao largo da costa da Antártida.

Fragmentos com 90 milhões de anos podem ter-se formado após incêndios florestais que deflagraram nas áreas outrora habitadas por dinossauros.

Cientistas descobriram pela primeira vez fragmentos de âmbar na Antártida, mais especificamente numa bacia sedimentar ao largo da costa perto da Ilha Pine, no Mar de Amundsen.

De acordo com o artigo publicado esta terça-feira na Antarctic Science, a descoberta não só adiciona a Antártida à lista de continentes que produzem fósseis de âmbar, como também fornece uma visão inédita sobre as florestas da era Cretácea que outrora ali prosperaram.

Durante este período, há cerca de 92 a 83 milhões de anos, os elevados níveis de dióxido de carbono atmosférico tornaram o clima global mais quente, criando as condições necessárias para que extensas florestas — lar de dinossauros e mamíferos — florescessem no continente.

Alfred-Wegener-Institut/James McKay

Ilustração de uma floresta na Antártida, no período Cretáceo.

Estas florestas incluíam muitas coníferas que libertavam resina quando a sua casca era danificada, algumas das quais se fossilizaram em âmbar nas condições corretas, agora descobertas. O âmbar foi encontrado numa camada de 5 centímetros de lenhite, um tipo de carvão húmido, e é o âmbar mais meridional alguma vez descoberto, a quase 74 graus de latitude sul.

De acordo com o Phys.org, as descobertas anteriores de âmbar do mesmo período foram feitas no sul da Austrália, que fazia parte do antigo supercontinente Gondwana juntamente com a Antártida. No entanto, o acesso a estes leitos fósseis na Antártida é particularmente difícil, graças à sua natureza gelada e remota.

A equipa, liderada por Johann Klages, do Instituto Alfred Wegener de investigação espera aprender mais sobre o antigo ecossistema florestal, por exemplo, se houve incêndios florestais e se é possível identificar quaisquer vestígios biológicos no âmbar.

Embora as peças sejam minúsculas — medem entre 0,5 a 1,0 milímetros — alguns fragmentos mostram sinais de possíveis restos de casca de árvore. Os investigadores sugerem que a resina que formou o âmbar pode ter sido uma resposta a incêndios florestais e posteriormente preservada quando coberta pela água, protegendo-a dos danos causados pelos raios ultravioleta.

Johann P. Klages

Os presumíveis fragmentos de casca de árvore.

“Os fragmentos de âmbar analisados permitem uma visão direta das condições ambientais que prevaleceram na Antártida Ocidental há 90 milhões de anos”, afirmou Klages em comunicado: “o nosso objetivo agora é saber mais sobre o ecossistema da floresta – se ardeu, se podemos encontrar vestígios de vida incluídos no âmbar”.

Além disso, a equipa destaca que a clareza e preservação do âmbar implicam que este nunca foi enterrado suficientemente fundo para sofrer alterações induzidas pelo calor. E deu ainda um nome ao âmbar inédito: “âmbar de Pine Island”.

Tomás Guimarães, ZAP //

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