A antiga administradora da TAP Alexandra Reis falou publicamente pela primeira vez sobre a indemnização de 500 mil euros que recebeu após sair da companhia aérea.
Eventualmente, um parecer da Inspeção-Geral de Finanças acabaria por ditar que o acordo para a saída de Alexandra Reis era nulo, obrigando assim à devolução de praticamente todo o valor que lhe foi pago.
Em declarações aos deputados, Alexandra Reis recorda que “foram períodos muito desafiantes e em ciclos opostos”, referindo-se ao período de gestão privada e pública. Ainda assim, reclama o mérito da poupança de milhões da companhia aérea.
“Dos 150 milhões de euros de poupanças apresentados em março de 2023, 130 milhões foram atingidos sobre a minha responsabilidade até dezembro de 2021″, disse a ex-gestora.
Alexandra Reis disse que sempre manifestou a sua visão, “mesmo quando estas não eram coincidentes com as da nova CEO”, realçando que nenhuma dessas divergências “beliscou” a dedicação à execução do plano de reestruturação.
Christine Ourmières-Widener só lhe terá informado no dia 25 de janeiro de 2022 que pretendia cessar as suas funções na empresa. Uma sociedade de advogados foi responsável por negociar as condições da sua saída.
“Aceitei de boa fé a contraproposta de acordo, correspondente a uma indemnização 500 mil euros brutos”, recordou Alexandra Reis.
Quanto à nomeação para a NAV, diz que considerou ter os “conhecimentos e experiência” necessários ao cargo. O mesmo entendeu em relação ao convite para a secretaria de Estado do Tesouro, por parte de Fernando Medina.
Citada pela CNN Portugal, Alexandra Reis explicou que a tutela pediu à TAP para redigir o contrato da CEO, prevendo a possibilidade de ela estar “representada noutros boards“. Além disso, houve várias trocas de informação, tendo sido dado o “ok” do Governo à versão final do acordo.
“De boa fé, confiei nos advogados da TAP e nos que me representavam na altura”, sublinhou.
A 29 de dezembro de 2021, Pedro Nuno Santos recebeu um email de Alexandra Reis a colocar lugar à disposição. De acordo com Alexandra Reis, o email mostrava a sua disponibilidade para se manter na TAP, se esse fosse o entendimento da tutela.
Alexandra Reis disse que a presidente executiva da companhia aérea lhe pediu para sair da empresa, tendo-lhe sido pedida confidencialidade e transmitido que o Governo estava de acordo.
Além disso, assumiu que ainda não compreende “de forma muito clara” as razões do pedido para que “saísse da empresa”.
Segundo a antiga administradora, em 25 de janeiro do ano passado, “numa reunião muito curta”, Christine Ourmières-Widener explicou-lhe que queria distribuir os seus pelouros por outros membros da comissão executiva e por isso lhe perguntou o que ficaria a fazer sem essas mesmas responsabilidades.
“Eu quero que saias da empresa”, foi o que, segundo Alexandra Reis, a presidente executiva da TAP lhe disse, tendo deixado claro que queria que saísse não só de administração, mas da empresa e que lhe pediu “confidencialidade sobre o assunto” numa conversa que foi presencial.
A antiga governante disse não estar a par sobre quem do Governo sabia desta decisão, relatando que perguntou a Christine Ourmières-Widener se o Governo estava “ok” com esta decisão e que a resposta que obteve foi “claro” que estava.
Insistiu 3 vezes para saber montante a devolver
A ex-administradora disse que insistiu pelo menos três vezes com a TAP para saber qual o montante líquido a devolver da indemnização de meio milhão de euros, estando ainda a aguardar informação.
“Logo na manhã seguinte à publicação do referido parecer [da IGF], 9 de março, os meus advogados contactaram a TAP”, para averiguar os montantes líquidos a devolver, disse Alexandra Reis, na comissão de inquérito à TAP, acrescentando que insistiu pelo menos três vezes junto da companhia aérea para que lhe faça chegar aquela informação.
“Continuo a aguardar essa indicação para que se possa proceder à devolução”, afirmou.
Alexandra Reis disse ainda que não falou sobre a saída da empresa, nem sobre a indemnização de meio milhão de euros, com o ministro das Finanças, Fernando Medina, quando foi convidada para o Governo.
“Quando fui convidada para secretária de Estado, não falámos do meu processo de saída da TAP, nós não falámos sobre a indemnização”, afirmou Alexandra Reis, em resposta ao deputado Bernardo Blanco, da IL, na comissão de inquérito à companhia aérea.
O deputado liberal perguntou à ex-secretária de Estado do Tesouro como é que Fernando Medina conhecia as razões para a saída da TAP, embora tenha dito que não sabia da indemnização, ao que Alexandra Reis respondeu apenas: “Não sei”.
ZAP // Lusa