Os militantes do Al-Shabaab estão a extorquir enormes quantias de comunidades esfomeadas e forçar o recrutamento da crianças como soldados e bombistas suicidas, enquanto o grupo enfrenta uma crise financeira e moral.
O grupo terrorista al-Shabaab, que opera na Somália, está a fazer o recrutamento forçado de milhares de crianças-soldado e bombistas suicidas, avança o The Guardian.
A informação consta de documentos dos serviços secretos, transcrições de interrogatórios feitos a desertores e entrevistas realizadas pelo jornal britânico a habitantes das áreas controladas pelo Al-Shabaab.
Os habitantes reclamam dos constantes ataques aos Direitos Humanos levados a cabo pelo grupo terrorista e acusa analistas do assunto de não prestarem tanta atenção como a outras crises humanitárias.
O grupo é acusado de matar e maltratar homossexuais, de realizar casamentos forçados e usar civis como escudos humanos. O jornal britânico conta vários exemplos do terror vivido pela população.
Um homem foi apedrejado até à morte por adultério e outros cinco, entre os quais um jovem de 16 anos, foram fuzilados por alegadamente serem espiões ao serviço das autoridades somalis.
Num outro caso, um jovem de 20 anos e outro de 15 foram mortos em praça pública depois de serem considerados homossexuais por um tribunal religioso.
De acordo com o Expresso, o Al-Shabaab goza de um sistema judicial próprio, através do qual já açoitou cinco pessoas, pelo menos, por comportamento “imoral ou impróprio”, nomeadamente o adultério.
Enfrentado uma grave crise financeira que poderia ditar o seu fim, o al-Shabaab voltou-se para a extorsão de dinheiro às populações. Segundo vários relatos, “os muçulmanos são obrigados a pagar por quase tudo exceto pela entrada na mesquita”.
O grupo tem um sistema judicial próprio que muitas pessoas preferem “porque o juiz obedece à lei islâmica – a sharia – e não existe nepotismo e corrupção“, disse o familiar de uma vítima de violação, cujo violador foi julgado e morto por apedrejamento. “Se tivéssemos recorrido a um tribunal do governo, não teria sido feita justiça porque o violador poderia ter pago algum dinheiro ao tribunal que o libertaria.”
As crianças bombistas
Um desertor do grupo terrorista revelou o dia-a-dia das crianças que são colocadas em internatos desde os oito anos, onde são treinadas para combater e integrar unidades de combate a meio da sua adolescência.
“As crianças acabam por ficar totalmente fora da influência dos pais”, explicou Mohamed Mubarak, diretor de pesquisas do think tank Horn Institute for Security and Strategic Policy.
De acordo com as autoridades, 32 crianças foram salvas das mãos do Al-Shabaab, em janeiro passado. Tinham sido recrutadas para serem usadas como bombistas-suicidas. É também bastante comum usarem as populações como escudos humanos, relatou um membro do governo somali, responsável por fiscalizar a ajuda humanitária no centro-sul da Somália.
O grupo impede-as de se movimentarem porque temem os ataques aéreos se os civis saírem, mas também impõem restrições ao que podem ler ou escutar. A maior parte das pessoas só escutam as estações de rádio do Al-Shabaab e acedem a notícias através de palestras que duram várias horas, essencialmente sobre temas religiosos, nas quais todos são obrigados a participar.
“A vida é muito difícil nas áreas controladas pelo Al-Shabaab. Não há comida, não há ajuda e as crianças estão a ser levadas”, lamentou Mubarak, o diretor do Horn Institute for Security and Strategic Policy.