A água do nosso planeta chegou tarde

Um novo estudo concluiu que a água do nosso planeta chegou tarde na história da formação da Terra.

Há milhares de milhões de anos, no disco gigante de poeira, gás e material rochoso que orbitava o nosso Sol, corpos fundiram-se e deram origem a planetas, luas e asteróides.

Os mecanismos pelos quais os planetas, incluindo o nosso, se formaram são ainda um mistério para os cientistas. Contudo, analisar o magma que sobe do interior do planeta pode ajudar os cientistas a compreender melhor a formação da Terra.

Tal como os fósseis nos fornecem informações sobre o passado biológico da Terra, as assinaturas químicas destas amostras contêm um registo do tempo e do tipo de ingredientes que se juntaram para formar o nosso planeta.

Recentemente, um estudo conduzido por uma equipa do Caltech revelou que a Terra primitiva “acumulou-se” a partir de materiais quentes e secos. A descoberta indica que a água do nosso planeta, o componente crucial para a evolução da vida, deve ter chegado tarde na história da formação da Terra.

Um cocktail de elementos quentes, secos e rochosos

As rochas presentes nas profundezas do nosso planeta podem fazer uma travessia e chegar até à superfície sob a forma de lava. Segundo o Phys, o magma pode vir de várias profundidades, incluindo do manto superior (que começa a cerca de 15 quilómetros abaixo da superfície e se estende por cerca de 680 quilómetros) ou do manto inferior (que se estende de uma profundidade de 680 quilómetros até à fronteira núcleo-manto, a cerca de 2.900 quilómetros abaixo dos nossos pés).

Estudar estes magmas permite aos cientistas conhecer vários detalhes sobre as camadas da Terra, como os químicos nelas contidos e as suas proporções.

Sendo que a formação da Terra envolve a acumulação de materiais ao longo do tempo, as amostras do manto inferior e superior dão pistas diferentes sobre o que estava a acontecer ao longo do processo de acreção da Terra.

De acordo com a nova investigação, a Terra primitiva era predominantemente constituída por materiais secos e rochosos, uma vez que os vestígios químicos do seu interior revelaram uma escassez dos chamados voláteis ou substâncias facilmente vaporizáveis, como a água e o iodo. Em contrapartida, as amostras do manto superior apresentavam três vezes mais voláteis do que as do manto inferior.

Com base nestas proporções químicas, os cientistas desenvolveram um modelo que demonstra que a Terra se formou a partir de elementos quentes, secos e rochosos e que a adição significativa de voláteis necessários à vida, como a água, só aconteceu durante os últimos 15% (ou menos) da formação do planeta.

Esta descoberta contribui para as teorias de formação planetária, que recentemente sofreram várias mudanças de paradigma e continuam a ser objeto de um debate aceso. O novo estudo também permite fazer inferências significativas sobre a composição de Mercúrio e Vénus, sugerindo que estes dois planetas terrestres evoluíram a partir de materiais igualmente secos.

O artigo científico foi publicado, este mês, na Science Advances.

Liliana Malainho, ZAP //

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