Afinal, os homens em cargos mais elevados não são os únicos a usar a sua posição para ganhos sexuais

Os autores de um novo estudo fizeram questão de salientar que este não aborda o correto ou o errado da abordagem e que as conclusões não significam que o assédio sexual não possa vir daqueles que se encontram em posições poderosas.

A cultura tóxica em ambientes de trabalho, marcadas muitas vezes pelo assédio sexual, é frequentemente atribuída em exclusivo aos homens e, particularmente, aos que ocupam posições de poder. No entanto, um novo estudo veio revelar que, afinal, são os homens que ocupam cargos menos relevantes que tendem a namoriscar e a beneficiar disso.

A raiz do que os investigadores descrevem como ‘comportamento sexual social indesejado’ destes homens parece ser um desejo de parecer mais masculino e poderoso perante os colegas — mesmo quando aqueles que iniciam o comportamento sabem que este pode ser visto como ofensivo.

Isto baseia-se numa variedade de testes e experiências que envolveram um total de 2.598 adultos e estudantes que vivem nos Estados Unidos da América, sendo que a maioria se auto-identificam como heterossexuais. Aos voluntários foi pedido que tentassem definir a sua própria identidade sexual social — um novo termo introduzido neste estudo que indica como alguém pensa que pode alavancar o sex appeal na busca de ganhos pessoais.

“A maior parte da literatura neste campo centra-se em homens no poder“, explicou a psicóloga Laura Kray, da Universidade da Califórnia, Berkeley ao site Science Alert. “Mas através de uma série de estudos, temos desmascarado o mito de que o comportamento sexual social é algo que só os homens de alto poder fazem — que de alguma forma o poder é este afrodisíaco que faz com que as pessoas se aproveitem sexualmente dos outros”.

Os testes assumiram várias formas, incluindo pedir aos participantes que escolhessem perguntas que se sentissem à vontade para fazer aos seus colegas, e avaliar interações hipotéticas entre pessoas que estivessem a trabalhar em conjunto.

Numa experiência, 203 voluntários foram informados de que seriam emparelhados com um parceiro, e que poderiam trocar informações pessoais (como o seu género, objectivos de vida, traços de personalidade e atratividade) de antemão, sob forma escrita. Foram então emparelhados com um indivíduo desconhecido do sexo oposto e foi-lhes atribuído um papel de chefe ou de subordinado.

O passo seguinte foi conseguir que os voluntários escolhessem de uma lista de perguntas que gostariam de colocar ao seu novo parceiro. Estas foram divididas em perguntas com e sem conotações sexuais (por exemplo, “alguma vez teve uma relação no local de trabalho?” versus “alguma vez teve um conflito no local de trabalho?”).

Os estudantes do sexo masculino que foram informados de que trabalhariam para um chefe do sexo feminino escolheram mais frequentemente as questões sexuais sociais do que as estudantes do sexo feminino na mesma situação. Escolheram também mais questões sexuais sociais do que voluntários masculinos e femininos a quem foi dito que seriam chefes de um subordinado masculino ou feminino.

Isso contraria os estereótipos tradicionais: que as mulheres empregadas em empregos de nível inferior que procuram avançar nas suas carreiras ou os poderosos patrões masculinos que querem manipular os outros são os que têm maior probabilidade de se envolverem em comportamentos sociais sexuais enquanto trabalham.

“Por outras palavras, é um desejo de mais poder — não de deter o poder — que corrompe”, diz a psicóloga organizacional Jessica Kennedy, da Universidade de Vanderbilt, no Tennessee.

Além disso, há também uma ligação à identidade sexual social: os homens com maior probabilidade de se envolverem em comportamentos sexuais também se descrevem a si próprios como “namoradores encantadores” e como pessoas com “sex appeal”.

Os investigadores fazem questão de salientar que o seu estudo não aborda o correto ou o errado de namoriscar desta forma, e que as conclusões que tiraram não significam que o assédio sexual não possa vir daqueles que se encontram em posições poderosas — como frequentemente acontece.

A formação futura sobre assédio sexual no local de trabalho poderia gerar alguma auto-reflexão sobre se “provocar” ou “brincar” poderia ou não ser um indicador precoce de algo mais sério, sugere a equipa que está por detrás do novo estudo.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.