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Afinal, os espermatozóides não nadam como enguias. São mais como “lontras brincalhonas”

Um novo estudo levado a cabo por cientistas de Bristol, no Reino Unido, e do México concluiu que os espermatozóides humanos não nadam como se pensava até então: as células reprodutoras masculinas não se movimentam como enguias, sendo mais parecidas com “lontras brincalhonas”.

A nova investigação, cujos resultados foram esta semana publicados na revista Science Advances, expande aquela que é a versão mais comummente aceite sobre a forma como as células reprodutoras masculinas humanas se movimentam.

Os cientistas sugerem agora que a cauda dos espermatozóides se move muito rapidamente em três dimensões, e não de um lado para o outro em duas dimensões, como se pensava até então, tal como escreve a agência espanhola Europa Press.

Mais de 300 anos depois de o holandês Antonie van Leeuwenhoek (1632-1723) usar um dos primeiros microscópios para descrever os espermatozóides humanos como corpos com uma “cauda que, ao nadar, chicoteia com um movimento de serpente, como uma enguia na água”, os cientistas dizem agora que se trata de uma ilusão de ótica.

Recorrendo à microscopia 3D e a modelos matemáticos modernos, Hermes Gadelha, da Universidade de Bristol, e Gabriel Corkidi e Alberto Darszon, da Universidade Nacional Autónoma do México, reconstruiram o “verdadeiro” movimento da cauda desta célula reprodutora masculina em três dimensões.

O estudo defende que a cauda dos espermatozóides é realmente desajeitada, movendo-se apenas de um lado, unilateralmente. Contudo, e apesar desta constatação significar à partida que a célula se movesse em círculos, os espermatozóides encontraram uma forma de se adaptar e nada para a frente, permitindo a fecundação.

“Os espermatozóides ‘perceberam’ que, se rolassem enquanto nadavam, assim como fazem as lontras brincalhonas (…) a sua alimentação unilateral se normalizaria e conseguiriam assim nadar em frente”, explicou Gadelha, líder do Laboratório de Polímeros do Bristol Engineering Mathematics e especialista em matemática de fertilidade.

Ilusão de ótica fruto da tecnologia

Mas Leeuwenhoek não estava totalmente errado, tendo em conta a tecnologia da época.

“A rotação rápida e altamente sincronizada do espermatozóide causa uma ilusão de ótica quando vista de cima através de microscópios 2D: a cauda parece ser simétrica de um lado para o outro, como enguias na água, tal como descreveu o holandês no século XVII.

“A nossa descoberta mostra que os espermatozóides desenvolveram uma técnica de natação para compensar o seu desequilíbrio e, ao fazê-lo, resolveram inteligentemente um puzzle matemático em escala microscópica, criando simetria a partir de uma assimetria”, concluiu ainda o especialista.

Darszon destaca ainda que o novo estudo “revolucionara a compreensão da motilidade espermática e o seu impacto na fertelização natural”.

“Pouco se sabe sobre o ambiente intrincado no interior do trato reprodutivo feminino e como é que a natação dos espermatozóides colide com a fertilização. Estas novas ferramentas abrem os nossos horizontes para as incríveis capacidades do esperma”.

 

 

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