Afinal o Sol é mesmo uma estrela “do tipo solar”. O problema está nas outras

Vários estudos sugeriam que estrelas semelhantes ao Sol seriam significativamente mais ativas. Contudo, o problema parece não estar no Sol, mas nas estrelas que são classificadas como do ‘tipo solar’.

Uma equipa liderada pela investigadora do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) Ângela Santos, parece ter posto um fim à ideia de que o Sol não seria uma estrela normal, do “tipo solar”.

Os resultados do estudo, que recorreu a dados dos satélites Kepler (NASA), Gaia (ESA) e SOHO (NASA/ESA),  foram publicados esta quinta-feira na revista Astronomy & Astrophysics.

Embora pareça estranho tentar saber se o Sol é uma estrela do tipo solar, Ângela Santos explica o problema: “Há um debate sobre se o Sol é ou não uma estrela do ‘tipo solar’. Em particular, sobre a sua atividade magnética, vários estudos sugeriam que estrelas semelhantes seriam significativamente mais ativas.”

Mas, na opinião da investigadora , “o problema parece não estar no Sol, mas nas estrelas que são classificadas como do ‘tipo solar’, pois existem várias limitações e viés nos dados observacionais e nas propriedades das estrelas que são.

Para o estudo foram escolhidas estrelas com propriedades muito semelhantes às do Sol. A equipa usou um novo catálogo de propriedades de estrelas, provenientes de observações do satélite Kepler, além de dados do satélite Gaia e do catálogo de períodos de rotação e índices de atividade magnética da própria equipa.

Os dados destas estrelas foram comparados com a atividade dos últimos dois ciclos de atividade do Sol, obtidos pelo instrumento VIRGO/SPM, a bordo do telescópio espacial solar SOHO.

Uma das estrelas estudadas, escolhida do catálogo do Kepler, foi carinhosamente apelidada de “Doris” pelos astrónomos.

Num trabalho anterior, a equipa já tinha observado que a amplitude do ciclo de “Doris” era mais de duas vezes maior do que os ciclos solares mais recentes, isto apesar de “Doris” ter propriedades muito semelhantes às do Sol.

A investigadora explica que “a diferença era a metalicidade. A nossa interpretação é que o efeito da metalicidade, que torna a zona de convecção mais profunda, levando a um dínamo mais eficaz, o que implica um ciclo de atividade mais forte”.

Neste recente trabalho, quando a equipa selecionou estrelas semelhantes a “Doris”, sem considerar a metalicidade na seleção, encontrou um excesso de estrelas com elevada metalicidade.

“Na nossa seleção, o único parâmetro que poderia levar a este excesso é o período de rotação. Em particular, Doris tem um período mais longo do que o Sol. E encontramos de facto evidências para uma correlação entre o período de rotação e a metalicidade”, diz Santos.

Os resultados dos dois trabalhos são consistentes, uma vez que a atividade magnética mais forte significa que o processo de travagem magnética leva a um período de rotação mais lento — o que explica porque é que “Doris” tem uma rotação mais lenta do que o Sol, apesar de ser muito semelhante e ligeiramente mais nova do que o Sol.

“O que descobrimos é que, apesar de haver estrelas mais ativas do que o Sol, o Sol é uma estrela do tipo solar completamente normal.”, conclui Ângela Santos.

// IA

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