Afinal, as Grutas Naracoorte, na Austrália, podem ser 500 mil anos mais antigas do que se achava

As descobertas poderão ajudarão os paleontologistas a visar novos locais de escavação para encontrar fósseis mais antigos.

As Grutas Naracoorte, no Sul da Austrália, são consideradas um dos melhores sítios fósseis do mundo, contendo um recorde que se estende por mais de meio milhão de anos. Entre os restos conservados em camadas de areia encontram-se os ossos de muitas espécies icónicas de mega fauna australiana que se extinguiram entre há 48.000 e 37.000 anos.

As razões para o desaparecimento destas espécies de mega fauna são intensamente debatidas. Mas quanto mais antigos forem os fósseis que conseguirmos encontrar, melhor poderemos compreender a evolução e a extinção das espécies. Até à data, determinar a idade exata das grutas tem sido difícil. Contudo, uma nova investigação demonstra, pela primeira vez, a idade das cavernas de Naracoorte — e a resposta é até 500.000 anos mais velha do que se pensava anteriormente.

As descobertas lançam uma nova luz sobre a antiguidade deste importante lugar. Esperamos que isto ajude à compreensão de como a biodiversidade responde a um clima em mudança ao longo do tempo.

Tal como escreve o Science Alert, as cavernas podem ser extraordinárias cápsulas de tempo, muitas vezes preservando os restos de plantas e animais há muito extintos em requintados detalhes. As Grutas Naracoorte no Sul da Austrália é um desses exemplos — sendo que o complexo de cavernas é o único sítio do Património Mundial da Austrália do Sul.

As cavernas formaram-se quando as águas subterrâneas percolaram através de fendas nas rochas calcárias, dissolvendo-as e formando cavidades. Foram previamente datadas com idades entre 0,8 e 1,1 milhões de anos — uma estimativa gerada pela datação de uma duna fóssil que se encontra sobre o complexo da caverna.

No entanto, os métodos utilizados para datar o cume das dunas não eram inteiramente adequados para a tarefa. Como tal, através de um trabalho de datação das cavernas, que decorreu ao longo de cinco anos e incluiu o exame das formações de calcita dentro das cavernas, foi implementado.

De acordo com os investigadores, quando os espeleotemas se formam, pequenas quantidades de urânio — um elemento radioativo — são fechadas no seu interior. Com o tempo, o urânio decompõe-se lentamente no elemento chumbo. Isto ocorre a um ritmo conhecido e constante – o que significa que podemos utilizar urânio em espeleotemas como um relógio natural para os datar.

Fazê-lo exigiu a extração de urânio e chumbo do espeleotemas num laboratório. Como tal, a equipa mediu cada elemento e calculamos a idade da amostra com grande precisão. Tendo em conta que os espeleotemas só começam a crescer uma vez formada uma cavidade subterrânea e acima do lençol freático, a idade dos espeleotemas mais antigos revela a idade mínima da própria cavidade.

Como os espeleotemas só começam a crescer uma vez formada uma cavidade subterrânea e acima do lençol freático, a idade dos espeleotemas mais antigos revela a idade mínima da própria cavidade. A partir daí, descobrimos que as cavernas começaram a formar-se há pelo menos 1,34 milhões de anos — tornando-as 250.000 a 500.000 anos mais velhas do que as estimativas anteriores.

A segunda parte do estudo visou determinar quando as grutas se abriram à superfície pela primeira vez, permitindo a entrada de ar e animais. A equipa fê-lo examinando partículas microscópicas de carvão e pólen capturados nas formações de calcita à medida que cresciam.

A equipa encontrou carvão e pólen pela primeira vez nas cavernas há cerca de 600.000 anos. Isto sugere que as cavernas podem albergar novos materiais fósseis de vertebrados com até 600.000 anos — mais de 100.000 anos mais velhos do que os mais antigos depósitos fósseis conhecidos no complexo.

Atualmente, existe um debate acalorado sobre se a extinção da mega fauna australiana foi o resultado do homem ou do clima. Como tal, uma boa cronologia é a chave para compreender quando e com que rapidez os processos naturais ocorreram ao longo do tempo. Sem idades precisas, não não é possível conhecer a taxa de mudança das paisagens, do clima, ou da biodiversidade.

Assim, embora as Grutas Naracoorte se tenham formado há pelo menos 1,34 milhões de anos, é provável que só se tenham aberto à superfície há 600.000 anos. Isto lança uma nova luz sobre a vasta separação no tempo entre as tempestades de terra que evoluem e os fósseis que se acumulam.

As descobertas poderão ajudarão os paleontologistas a visar novos locais de escavação para encontrar fósseis mais antigos — as quais se espera que forneçam mais provas valiosas de como a biodiversidade mudou naquele território. A nossa nova abordagem pode ajudar a desvendar como antigos depósitos de fósseis em outros complexos de cavernas na Austrália e em todo o mundo onde se encontram fósseis de espeleotemas e de vertebrados.

ZAP //

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