De adorno de um navio de Calígula a mesa de centro. Esta é a história de um mosaico romano

Nicolaes Witsen

Um dos navios de Calígula, pintado por Nicolaes Witsen.

O mosaico do tempo do imperador romano Calígula, que desapareceu de um museu italiano durante a II Guerra Mundial, voltou a casa em março. Durante quase meio século foi usado como mesa de centro num apartamento em Nova Iorque.

Em entrevista ao programa “60 Minutes”, da CBS News, Dario Del Bufalo, um especialista italiano em pedra e mármore antigos, descreveu como encontrou este mosaico romano de valor inestimável.

O mosaico fez parte do chão de um dos navios construídos a mando do imperador romano Calígula, que estavam parados no lago Nemi e serviam sobretudo para satisfazer o seu estilo de vida luxuoso e esbanjador. Quando o imperador foi assassinado, no ano 41 D.C., os barcos foram afundados.

Nos anos 30, já sob as ordens do ditador Benito Mussolini, as embarcações foram retiradas do fundo do lago e este mosaico e outras relíquias foram colocados num museu nas proximidades. Mas em 1944, durante a retirada alemã no fim da II Guerra Mundial, os navios e muitos outros tesouros foram queimados e destruídos.

Em 2013, em Nova Iorque, Del Bufalo estava a apresentar o seu livro “Porphyry”, que por acaso inclui uma imagem do mosaico perdido, e foi então que foi surpreendido pela conversa de um homem e de uma mulher presentes na sessão de autógrafos.

“Foi uma senhora, que estava acompanhada por um rapaz, que se dirigiu à mesa. E então ele disse: ‘Que livro bonito. Olha, Helen, este é o teu mosaico‘. E ela respondeu: ‘Sim, é este mesmo'”, recordou o italiano, citado pelo jornal The Guardian.

Del Bufalo conseguiu entrar em contacto com o jovem, que confirmou que a mulher com quem estava tinha o mosaico no seu apartamento em Manhattan.

A mulher era Helen Fioratti, negociante de arte e dona de uma galeria que, segundo a entrevista dada ao jornal New York Times em 2017, contou que ela e o marido, um jornalista italiano, compraram o mosaico a uma família nobre italiana nos anos 60. De volta a Nova Iorque, o casal decidiu transformá-lo numa mesa de centro.

O mosaico, que terá sido roubado durante a II Guerra, voltou a casa em março deste ano, podendo ser visto no Museu dos Navios Romanos, em Nemi.

Del Bufalo lamenta o facto de ter tirado um dos objetos favoritos das mãos da negociante de arte nova-iorquina, mas sabe que foi a coisa certa a fazer.

Tive muita pena dela, mas não podia ter feito as coisas de forma diferente, sabendo que no museu em Nemi estava a faltar a melhor parte, um objeto que passou pelos séculos, pela guerra e por um incêndio (…).”

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