Os exércitos de Cruzados eram compostos por uma “excecional” variedade genética que se estendia para lá das raízes da Europa Ocidental – esta é a história dos Cruzados contada pelo ADN dos próprios Cruzados.
Um novo estudo, levado a cabo por uma equipa de cientistas do Instituto Sanger de Cambridge, no Reino Unido, veio contrariar a ideia “adequada” de que estes lutadores de inspiração cristã eram meramente europeus. A investigação, cujos resultados foram publicados a 18 de abril no The American Journal of Human Genetics, dá uma “visão sem precedentes” sobre os apelidados soldados de Cristo.
A equipa realizou uma série de análises de ADN em restos mortais de nove Cruzados mortos em combate e enterrados no Líbano no século XIII, visando mapear e melhor compreender a “impressão genética” deixada por estes combatentes nas populações que foram encontrando durante as campanhas militares travadas entre 1095 e 1291.
“Sabemos que Ricardo Corazón de León foi lutar nas Cruzadas, mas não sabemos muito sobre os soldados comuns que lá viveram e morreram, e estas amostras antigas dão-nos uma ideia disso mesmo”, disse o geneticista Chris Tyler-Smith, do instituto inglês.
A sequência de ADN dos nove combatentes encontrados na cidade de Sidon revelou uma variedade genética que se estende para lá da Europa Ocidental: três eram europeus, quatro eram oriundos do Médio Oriente e dois tinham uma linhagem mista.
Apesar de os especialistas afirmarem que os Cruzados de “alto escalão” chegaram a fazer casamentos com arménias, o novo estudo evidencia que os soldados foram também semeando relações enquanto se dirigiam para leste, misturando-se com as populações locais. Destes cruzamentos, surgiu uma diversidade genética “excecional”.
“Estes [Cruzados analisados geneticamente] eram as pessoas comuns que se foram misturando, e os seus filhos juntaram-se à luta mais tarde”, explicou o médico e autor principal do estudo, Marc Haber, em declarações ao diário britânico The Guardian.
De acordo com o especialista, a descoberta oferece uma “visão sem precedentes sobre as origens das pessoas que lutaram pelos exércitos das Cruzadas. Não foram só europeus”.
“Vemos esta diversidade genética excecional no Médio Oriente durante a época medieval, onde europeus, pessoas do Médio Oriente e indivíduos mistos lutaram, viveram e morreram lado a lado durante as Cruzadas”, completou.
O professor Jonathan Phillips, da Royal Holloway, Universidade de Londres, disse ao The Guardian que o estudo recém-publicado vai ao encontro de provas documentais, que relatam que os Cruzados se envolveram com a população local. “[Os Cruzados] utilizaram cristãos locais nos seus exércitos”, apontou.
O especialista acrescentou ainda que a descoberta contraria a ideia “antiquada” que sustenta que os Cruzados pouco ou nada se relacionavam com as pessoas com quem se encontravam. “[A descoberta] realmente mata a pedra morta“, frisou.
O estudo sugere ainda o legado dos Cruzados não teve um efeito duradouro nas populações locais, uma vez que os seus traços genéticos são insignificantes nos habitantes do Líbano moderno. “Fizeram grandes esforços para expulsar [os Cruzados], e conseguiram fazê-lo depois de um par de séculos”, disse Tyler-Smith.