“Homem perfeito, que sorte tê-lo ao lado”: Abusos a Gisèle Pelicot aconteciam depois de “miminhos”

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Guillaume Horcajuelo / EPA

Gisèle Pelicot

Dominique Pelicot violou a mulher Gisèle durante nove anos, período no qual convidou mais de meia centena de homens para perpetrar o mesmo crime. O agressor disfarçava os crimes nos “miminhos” que preparava para a mulher.

Gisèle Pelicot falou, esta quarta-feira, em tribunal, num dos julgamentos mais mediáticos dos últimos tempos, a acontecer em França. Gisèle foi drogada durante nove anos pelo marido e violada por mais de 50 homens no seu próprio quarto.

Apesar de se ter confessado “destruída”, a vítima disse estar determinada em mudar a forma como a sociedade vê estes casos: “Queria que todas as mulheres que foram violadas pudessem dizer a si próprias: ‘Se ela conseguiu, nós conseguimos’. Quando somos violadas, sentimo-nos evergonhadas, mas não somos nós que temos de nos sentir envergonhadas, são eles que têm de ter vergonha“.

O grande visado neste caso é Dominique Pelicot – ex-marido de Gisèle. Está a ser julgado por ter drogado a mulher com ansiolíticos durante dez anos, desde julho de 2011 a outubro de 2020, antes de a violar e por, simultaneamente, ter recrutado dezenas de homens na Internet para fazerem o mesmo.

Sou um violador como todos os que estão nesta sala. (…) Arrependo-me do que fiz, peço perdão, mesmo que seja imperdoável”, admitiu a 17 de setembro.

Esta quarta-feira, Gisèle contou, em tribunal, que sempre esteve convicta de que “Dominique era o homem perfeito (…) Tantas vezes disse a mim mesma que era uma sorte tê-lo a meu lado (…), mas como é que o homem perfeito chegou a isto? Como é que me pôde trair até este ponto? Como é que trouxe estes estranhos para o meu quarto?” – questionou, citada pelo The Guardian.

Dominique admitiu que esmagava comprimidos para dormir e medicamentos anti-ansiedade na comida e bebida da mulher para a deixar em coma. Gisèle disse nunca se ter apercebido de momentos em que ele a poderia ter drogado, apesar de notar que ele fazia muitas refeições e ‘mimos’ que, afinal, eram armadilhas.

“Tomávamos um copo de vinho branco juntos. Nunca achei nada de estranho nas minhas batatas. Acabávamos de comer. Ela trazia o meu gelado de framboesa para a cama, o meu sabor preferido. E eu pensava, que sorte a minha, ele é um amor”, contou a vítima.

“Nunca senti o meu coração bater, não senti nada, devo ter-me afogado muito depressa. Acordava com o pijama vestido. De manhã, devia estar mais cansada do que o normal, mas ando muito a pé e pensei que fosse isso”, contou.

Depois, a mulher confessou que começou a ter problemas de saúde e que Dominique sempre o apoiou: “Levou-me a um neurologista, quando eu estava preocupada. Também me acompanhava ao ginecologista (…) consultei três. (…) Para mim, ele era uma pessoa em quem eu confiava inteiramente”.

“Não sei como me vou reconstruir”

“Sou uma mulher que está totalmente destruída e não sei como me vou reconstruir. Vou fazer 72 anos em breve e não sei se a minha vida será suficientemente longa para recuperar disto”, confessou a antiga gestora de logística.

Este caso ganhou uma grande dimensão mediática em todo o mundo, e já levou milhares de pessoas a manifestarem-se a favor de leis de violação mais rigorosas, em França: “Gisèle, as mulheres agradecem-te”.

“É verdade que oiço muitas mulheres e homens dizerem que é muito corajosa. Eu digo que não é bravura, é vontade e determinação de mudar a sociedade“, considerou a vítima.

Como escreve o The Guardian, em quase dois meses de depoimentos, o tribunal ouviu dezenas de homens acusados. A maioria negou a violação.

Enquanto uns disseram que pensavam que ela estava a fingir que estava a dormir; outros pnesvam que aquilo era um jogo; e outros disseram ainda que o facto de o marido ter dado o seu consentimento era suficiente.

Meia centena de homens – com idades compreendidas entre os 26 e os 74 anos e de todos os extratos sociais – foram identificados pela polícia francesa a partir de filmes meticulosamente etiquetados e guardados por Dominique.

Os homens que estão a ser julgados juntamente com ele podem enfrentar penas até 20 anos de prisão se forem condenados.

ZAP //

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2 Comments

  1. Existe pessoas realmente doentes neste mundo…. Mas como os de esquerda alegam não existir mal absoluto e apenas mal relativo…. de certeza que aos olhos de muitos iluminados/ateus vão achar este comportamento normal …

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    • Não meta a politica nisto, já parece o André Ventura, não se trata de esquerda nem direita, trata-se de pessoas que cometeram um crime, pelo que tem que pagar pelo que fizeram.

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