Programa televisivo foi suspenso nos Países Baixos, após queixas de mulheres. John de Mol disse frases que não agradaram às funcionárias da ITV.
O famoso programa The Voice foi suspenso nos Países Baixos – país onde foi criado – devido a diversas queixas de abusos sexuais. Os acusados são dois dos jurados da edição actual e o líder da banda.
No dia 13 de Janeiro a BNNVARA publicou uma reportagem que contou com dezenas de testemunhos anónimos, de mulheres que relataram episódios de assédio ou mesmo de abuso sexual. Marco Borsato, Ali B (júris) e Jeroen Rietbergen (líder da banda) são os visados.
Uma mulher diz que foi violada por Ali B, nos bastidores do programa. O rapper já reagiu e assegurou que está inocente.
Marco Borsato foi o “alvo” de seis mulheres – três delas participaram na altura no The Voice Lida, eram menores. O cantor também nega qualquer crime.
O caso de Jeroen Rietbergen é diferente. Ainda antes da publicação da reportagem, o líder da banda do programa admitiu que teve “contactos sexuais” com participantes e que lhes enviou mensagens de carácter sexual. Pediu desculpa e explicou que não tinha noção de que estava a ter comportamentos errados, na altura. Demitiu-se dois dias depois de os relatos se terem tornado públicos.
Anouk, cantora que também fazia parte do júri, decidiu abandonar imediatamente o programa. “Já ouvi o suficiente. Não vou voltar ao The Voice. Não quero trabalhar num local onde uns homens abusaram e outros silenciaram, olharam para o lado”, anunciou a cantora que representou a Holanda no Festival Eurovisão da Canção 2003.
A RTL, estação televisiva que transmite o programa, retirou imediatamente o The Voice da grelha. Já não transmitiu o episódio seguinte e o programa, que tinha estreado uma semana antes (12.ª temporada), continua suspenso.
“As acusações são muito serias e chocantes. E a RTL não sabia disto. Contactámos a produtora do programa, ITV, que vai iniciar uma investigação imediatamente. O programa está suspenso até haver uma clarificação da situação”, anunciou a RTL, em comunicado.
Reacção do criador
O The Voice foi criado em 2010 precisamente nos Países Baixos, por John De Mol – que foi o responsável pelo aparecimento de outros sucessos televisivos, como Big Brother e Fear Factor.
De Mol preferiu não comentar o assunto, durante os primeiros dias, mas na quinta-feira passada cedeu uma entrevista (ao mesmo canal que publicou a reportagem) e contou que não tinha noção destas situações com os júris – embora tivesse recebido uma queixa enquanto era produtor-executivo do programa, em relação a Jeroen Rietbergen.
“Chamei o Rietbergen e estive aos gritos com ele durante meia hora. Tive que me controlar para não lhe dar um murro na cara”, relatou, acrescentando que o músico foi avisado: se repetisse qualquer gesto abusivo, seria despedido.
Agora, mesmo não estando ligado ao programa desde 2019, sente-se “responsável” pela existência destas queixas: “Não quer dizer que tenha visto algo e que as tenha encoberto. Estas pessoas foram magoadas. Há vítimas“.
No entanto, a parte da entrevista que originou novas reacções foi esta: “Mulheres, não esperem. Não tenham medo. Têm que abrir a boca. Só assim nós podemos ajudar-vos. Aparentemente, as mulheres têm algum tipo de vergonha. Não sei o que é, mas gostaria de aprofundar o assunto”.
Anúncio no jornal
No dia seguinte, o jornal Algemeen Dagblad tinha um “recado” para John de Mol, em forma de anúncio: “Querido John, não são as mulheres. Cumprimentos das mulheres da tua empresa”.
Esta reacção à entrevista teve continuidade num comunicado: “Ficamos assombradas e envergonhadas. Isto diz muito sobre a mudança de cultura que é necessária dentro da empresa, mas também no mundo da comunicação social e na sociedade no geral. E sobretudo em grandes empresas, onde este tipo de pensamentos errados ainda é seguido por homens no poder”.
“O comportamento das mulheres não é o problema. E também não é a solução. Esta declaração é, obviamente, também para incentivar todas as outras vítimas de abusos sexuais no local de trabalho”, continua o comunicado do grupo de funcionárias da produtora Talpa Media, fundada pelo empresário.
John De Mol já esclareceu: “Agora compreendo que, contrariamente às minhas boas intenções, não levei em conta o facto de que, de forma completamente involuntária, dei a impressão de que estava a culpar as mulheres“.
“Agora tornou-se claro para mim que as mulheres não vão apresentar denúncias se a cultura de uma empresa não for suficientemente segura. Lamento que, aparentemente, esse seja o caso da minha empresa e estou 100 por cento comprometido em mudar isso”, declarou De Mol.