Com a eleição do vencedor do prémio Nobel da Paz, Abiy Ahmed, como primeiro-ministro etíope, a cidade de Ambo passou de símbolo de liberdade a símbolo de repressão.
A cidade de Ambo, na Etiópia, era conhecida por ser um símbolo de liberdade. No entanto, sob a alçada do primeiro-ministro etíope e vencedor do prémio Nobel da Paz em 2019, Abiy Ahmed, a cidade passou a ser vista como um símbolo de repressão, denuncia uma reportagem da BBC.
As forças de segurança do país tentam conter o crescimento de rebeldes e grupos de oposição de inspiração étnica que ameaçam a sua visão.
Ambo é uma cidade com uma grande população de estudantes, muito graças à universidade que abriga. Em abril de 2018, foi um dos principais focos de oposição à subida ao poder de Abiy Ahmed, que prometia pôr um fim a décadas de um Governo autoritário.
Grande parte dos residentes de Ambo são oromas. Os protestos foram potenciados pelo facto de que, embora este seja o maior grupo étnico do país, estes são marginalizados do poder político e económico.
Por sua vez, Ahmed sempre mostrou uma visão bastante otimista para a cidade: “Ambo é onde vamos construir a nossa estátua da liberdade, a nossa Nova Iorque”.
Todavia, um ano depois da sua eleição como primeiro-ministro, os habitantes de Ambo voltam a denunciar o regresso da brutalidade policial. O repórter da BBC que escreveu a reportagem confessa que ele próprio assistiu a este tipo de episódios, em que a polícia espancava e detinha pessoas sem razão aparente.
“Vi polícias a andar com uma tesoura, a cortar cabelos de jovens que aparentavam ter cabelos longos ou afros”, conta o jornalista Bekele Atoma. Além disso, denuncia que durante a sua estadia de três semanas na cidade não conseguiu aceder à Internet. Apenas em duas ocasiões conseguiu fazê-lo, embora com um sinal muito fraco.
“O Governo não tem motivos para atacar civis, nós preocupamo-nos com o nosso povo mais do que qualquer outra pessoa”, argumentou Taye Dendea, um alto funcionário do recém-formado Partido da Prosperidade, de Abiy Ahmed.
Jawar Mohammed é um dos ativistas de redes sociais mais proeminentes e controversos da Etiópia – assumindo-se também como um dos mais críticos ao primeiro-ministro.
Após Ahmed ser laureado com o Nobel da Paz, no ano passado, Jawar divulgou um vídeo no Facebook no qual acusava o Governo de tentar remover os guardas da sua casa como parte de uma manobra para orquestrar um ataque contra ele.