Não há comum mortal que não fique rejuvenescido depois de uma boa noite de sono. Pelos vistos, os insetos não são assim tão diferentes de nós.
Segundo o canal televisivo CNN, dois novos estudos mostram que um pesticida muito usado está a perturbar o sono das abelhas e das moscas.
Num dos estudos, os cientistas analisaram o efeito dos pesticidas no comportamento dos abelhões, dando-lhes um néctar de açúcar misturado com neonicotinóides – inseticidas derivados de nicotina frequentemente utilizados – e rastreando os seus movimentos.
O impacto do pesticida, semelhante à quantidade que uma abelha encontraria na natureza, foi forte.
“Parece perturbar o relógio biológico dos abelhões: alimentam-se muito menos, a procura por alimento acontece mais à noite e dormem muito mais durante o dia. Isso está a fazer com que escolham momentos inapropriados para ter os seus comportamentos normais”, explicou à cadeia televisiva Kiah Tasman, professora assistente da Escola de Fisiologia, Farmacologia e Neurociências da Universidade de Bristol, no Reino Unido.
“É muito preocupante porque os nossos estudos, assim como outros, mostram que a motivação para procurar alimento diminuiu”, declarou a investigadora, acrescentando que as abelhas estão “muito lentas e saem com menos frequência”.
Este comportamento pode ter implicações sérias nos nossos ecossistemas porque são muitas as plantas – incluindo várias das frutas e legumes que comemos habitualmente – que dependem de animais polinizadores, como as abelhas, para se reproduzirem.
“Se o tempo em que estão a conseguir sair para procurar alimento é à noite, quando as flores não estão disponíveis, isso vai reduzir significativamente a sua taxa de sucesso em recolher a comida que a colónia precisa para crescer e reproduzir-se”, alerta Tasman, uma das autoras do estudo publicado na terça-feira, na revista científica iScience.
Também poderá afetar a capacidade das abelhas para cuidar das suas crias. E, simultaneamente, os mesmos pesticidas já foram considerados os culpados de danificar o cérebro dessas pequenas abelhas.
No segundo estudo, publicado, esta quinta-feira, na revista científica Scientific Reports, os investigadores focaram a sua atenção nas moscas. Mais uma vez, expuseram estes insetos aos mesmos neonicotinóides e usaram raios infravermelhos para monitorizar como isto afetava o seu movimento.
Os resultados mostraram que o pesticida estava a agir diretamente nas células cerebrais que comandam o relógio biológico – que decidem quando o sono e a atividade acontecem -, confundindo-as.
“Parece que estes pesticidas congelam essas células numa forma diurna, logo o corpo não sabe se é de dia ou de noite”, disse Tasman, acrescentando ser muito provável que o mesmo tipo de mecanismo que está a ocorrer nas moscas também está a acontecer com as abelhas.