Foram presos, torturados e obrigados a trabalhos forçados. Ainda assim, ficaram por lá, mesmo depois de serem libertados. E isso foi o melhor que podia ter acontecido para a região.
Os gulags eram campos de trabalhos forçados para onde eram exilados os presos políticos da União Soviética.Quem os ocupava eram sobretudo intelectuais considerados “inimigos do povo”, que eram por isso afastados para estes lugares remotos e completamente isolados — isto claro, quando não eram mortos.
Mas mesmo quem não era morto imediatamente pelos soviéticos podia muito bem ser morto pelas condições miseráveis em que trabalhava — os gulags eram campos de concentração onde, tal como os da Segunda Guerra Mundial, se levavam a cabo torturas dos prisioneiros.
No apogeu do Grande Terror de Estaline (1936-1938), foram presas mais de 1,5 milhões de pessoas, metade das quais foram executadas, conta a ZME Science. As restantes, foram para os gulags.
Nesses campos, 1,8% dos prisioneiros possuíam o ensino superior, em comparação com apenas 0,6% da população soviética em geral, uma vez que grande parte dos presos políticos consistia em intelectuais que contestavam o regime repressivo.
Mas, surpreendentemente, as pessoas que foram libertadas dos gulags após a morte de Estaline acabaram por desenvolver um gosto perverso pelo lugar, uma espécie de Síndrome de Estocolmo (quando a vítima de apaixona pelo raptor, ou, no caso, pelo lugar onde esteve presa).
Acontece que, após a sua libertação, muitos intelectuais acabaram por ficar a viver nas redondezas desses lugares, por se terem acostumado a eles.
O novo estudo, levado a cabo por Gerhard Toews e Pierre-Louis Vézina prova agora que, graças à presença nesses lugares de intelectuais cultos e letrados, devido aos campos de trabalho forçado, as zonas prosperaram.
A análise relaciona a distribuição pelo território russo dos gulags em 1952 com indicadores atuais entre 2000 e 2018.
A título de exemplo, um aumento de 28% na percentagem de presos políticos num determinado local faz que que a intensidade da luz noturna per capita aumente em 58%, os salários médios 22% e os lucros por trabalhador nas empresas 65%.
“Sugerimos que a relação entre os inimigos e a prosperidade moderna se deve à persistência a longo prazo de elevados níveis de educação, nomeadamente através da transmissão intergeracional, e ao seu papel no aumento da produtividade das empresas”, dizem os investigadores.