A felicidade é um dos objetivos mais importantes e comuns. Durante a pandemia, a palavra foi uma das mais procuradas no Google, mas nem tudo é cor-de-rosa: a busca pela felicidade pode ser má.
Jolanta Burke e Christian van Nieuwerburgh, da University of Medicine and Health Sciences, na Irlanda, explicam num recente artigo publicado na The Conversation que a busca pela felicidade pode exacerbar tendências individualistas e tornar-nos, como consequência, mais egocêntricos.
Por sua vez, o egocentrismo torna as pessoas que procuram a felicidade mais solitárias. Centradas em serem felizes, esquecem um princípio básico: a procura, fora delas mesmas, da verdadeira felicidade.
Esta teoria é sustentada pelo facto de as pessoas que atingem melhores pontuações em rankings de felicidade relatarem um bom apoio social; viverem vidas significativas que lhes permitem contribuir para a sociedade; e experimentarem em abundância emoções positivas que são frequentemente criadas na companhia de outros.
Além disso, sustentam os investigadores, a ideia de que devemos procurar a felicidade pode evidenciar a ausência desse estado nas nossas vidas. No fundo, quanto mais valorizamos a felicidade, mais provável é ficarmos desiludidos com a nossa situação atual.
Pior: quanto mais desesperados ficamos por encontrar a felicidade, mais provável é experimentarmos sintomas de depressão.
No artigo, os autores explicam ainda que a obsessão pela felicidade deu origem a uma indústria de pessoas e organizações que prometem formas rápidas de nos fazer felizes – e esta é apenas uma das razões pelas quais o enfoque estreito na “felicidade” pode ser prejudicial.
Acresce ainda o facto de ser “inapropriado” falar de felicidade quando se interage com pessoas que sofrem de pobreza extrema, injustiça política, conflitos devastadores ou desastres naturais.
Burke e van Nieuwerburgh referem que ser feliz não é uma prioridade nestas situações e que advogar iniciativas para aumentar a felicidade pode levar as pessoas a sentirem-se alienadas e incompreendidas.
O bem-estar é, esse sim, “mais profundo do que o simples hedonismo e inclui ligações com as pessoas, propósito da vida, sentido de realização e auto-valorização”.
Bater na porta errada não dará bom resultado certamente!