Cada vez mais jovens adultos na China estão a encontrar oportunidades românticas enquanto procuram emprego através de plataformas online — esbatendo as fronteiras entre as suas vidas profissionais e pessoais.
A mistura da vida profissional e pessoal em plataformas de recrutamento online tornou-se uma tendência muito pouco convencional, mas cada vez mais popular na China.
As plataformas de relacionamento tradicionais, como o Jiayuan, MarryU, Tantan e Momo, dominam há décadas o negócio do online dating no país, conta o SCMP.
Mas agora, há novos players no mercado: serviços de recrutamento online, como a BOSS Zhipin, que invadiram o território destas plataformas e oferecem não apenas oportunidades de emprego, mas também a possibilidade de encontrar casualmente o parceiro amoroso ideal.
O fenómeno está a ser amplamente discutido nas redes sociais chinesas – havendo quem aponte a originalidade e vantagens da abordagem peculiar, e quem questione até que ponto a mistura de negócios com prazer é saudável.
O SCMP dá o exemplo de uma utilizadora de Hangzhou, identificada como “aoaobuyaoli”, que encontrou o seu namorado enquanto se candidatava a um emprego através da BOSS Zhipin.
Inicialmente, aoaobuyaoli tinha enviado o currículo e preferências de emprego a um recrutador, que surpreendentemente a aconselhou a não se juntar à empresa — onde teria oportunidades limitadas de crescimento. “É melhor procurar emprego numa empresa maior”, explicou o recrutador.
“És algum espião de outra empresa? Por que estás a falar mal da tua”?, perguntou a candidata. “Apenas digo o que vejo”, replicou o recrutador.
Esta inesperada sinceridade impressionou a candidata. As conversas continuaram, passaram de conselhos de carreira para uma ligação pessoal — e culminaram num encontro no mundo real.
Ao contrário dos processos de recrutamento tradicionais, que geralmente restringem a interação direta entre recrutadores e candidatos, as aplicações chinesas de procura de emprego são projetadas para facilitar a comunicação direta.
Na China, os candidatos a emprego introduzem informações pessoais básicas, iniciando conversas diretas com os recrutadores com base no seu interesse em posições específicas. Esta facilidade de comunicação parece estar a permitir que conversas mais pessoais se desenvolvam naturalmente.
As candidaturas de emprego na país requerem bastante mais informação pessoal do que é habitual no mercado de trabalho dos países ocidentais, incluindo fotografias, gostos pessoais, passatempos e até o estado de relacionamento — basicamente, o mesmo tipo de informação que se partilha no online dating.
A disponibilidade desta informação, aliada à indução do contacto pessoal entre recrutadores e candidatos, potencia assim oportunidades de relacionamento amoroso que aparentemente se tornaram um sucesso na China.
Mas este fenómeno social tem um detalhe que parece estar a passar despercebido aos chineses: a partilha de informação não é propriamente mútua, pelo menos inicialmente.
Vista esta tendência sob uma perspetiva ocidental, dá a ideia de que os candidatos procuram emprego e os recrutadores procuram relacionamentos amorosos.