A música tem um efeito profundo nas pessoas com demência… mas não é qualquer música

A música está presente na nossa vida. Quer seja para nos animar, para nos fazer correr mais depressa ou para nos acalmar para dormir, todos reconhecemos o seu poder. Por isso, não é de admirar que esteja a ser cada vez mais utilizada em tratamentos médicos.

Segundo o Science Alert, há cerca de uma década, os investigadores descobriram que, quando as pessoas ouviam música, várias áreas do cérebro estavam envolvidas no seu processamento.

Estas incluíam as áreas límbica (que processa as emoções e a memória), cognitiva (envolvida na perceção, aprendizagem e reação) e motora (responsável pelo movimento voluntário).

Isto desafiou os preconceitos de que a música era processada de forma mais restrita no cérebro — e ajudou a explicar porque é que tem um impacto neurológico tão único.

Para além disso, a investigação demonstrou que a música pode ajudar a regenerar o cérebro e as suas ligações.

Muitas das causas de demência centram-se na morte de células no cérebro, o que levanta a possibilidade de a música poder ajudar as pessoas com demência, reparando ou reforçando as ligações neurais e as células danificadas.

No entanto, não é qualquer música que tem um efeito regenerador no cérebro. Está provado que a música familiar e favorita tem o maior impacto na forma como nos sentimos e está intimamente ligada à memória e às emoções.

Isto acontece porque ouvir as nossas canções favoritas liberta hormonas que nos dão uma sensação de prazer. A curadoria de listas de reprodução de música favorita pode ser a chave para nos ajudar a lidar com o stress da vida quotidiana.

Isto é relevante para a doença de Alzheimer e outras formas de demência porque os investigadores descobriram que as partes do cérebro ligadas às memórias musicais são menos afetadas por estas doenças do que outras áreas do cérebro. Isto explica porque é que as memórias e experiências ligadas à música favorita são frequentemente preservadas nas pessoas com estas doenças.

Ouvir música também pode ajudar a gerir as suas experiências de angústia, agitação e “sundowning” — quando uma pessoa está mais confusa durante a tarde e a noite.

Num pequeno estudo realizado por Rebecca Atkinson, Investigadora em Musicoterapia e Ming-Hung Hsu, Investigador Sénior, Musicoterapia, Universidade Anglia Ruskin e pelos seus colegas do Instituto de Investigação em Musicoterapia de Cambridge, ficou demonstrado o grande efeito que a audição de música pode ter nas pessoas com demência.

No estudo publicado no Science Direct, os cientistas descobriram que quando as pessoas com demência ouviam repetidamente a sua música favorita, o seu ritmo cardíaco e os seus movimentos mudavam em resposta direta.

Isto mostrou que as respostas físicas das pessoas eram afetadas por caraterísticas musicais como o ritmo e o arranjo. O ritmo cardíaco também se alterava quando cantavam ao som da música, ou quando começavam a recordar memórias ou histórias antigas enquanto ouviam uma canção ou pensavam na música.

Estas alterações são importantes porque mostram como a música afeta o movimento, as emoções e a recordação.

Os estudos também demonstraram que, durante e após a audição de música, as pessoas com demência sentiam menos agitação, agressividade e ansiedade, e o seu humor geral melhorava. Até precisavam de menos medicação quando tinham sessões regulares de música.

Outros investigadores começaram mesmo a testar os efeitos dos programas de treino musical para apoiar a cognição das pessoas com demência. Os resultados têm sido promissores até agora — com os adultos do estudo a mostrarem um melhor funcionamento executivo (resolução de problemas, regulação das emoções e atenção), comparativamente com os que participaram apenas em exercício físico.

Assim, é provável que a música continue a ser um tratamento médico útil para as pessoas com demência. Mas, com base no que sabemos até agora, é importante que provenha da coleção de música do próprio doente — e que seja utilizada juntamente com outras técnicas de gestão, como a utilização de medicamentos que podem retardar a progressão da demência ou ajudar a gerir os sintomas para apoiar o auto-cuidado e o bem-estar.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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